terça-feira, 19 de abril de 2011

Folclore dos Meninos do Morro (10)


O famoso sambista Quinho da Ilha foi fazer uma apresentação na escola de samba Reino Unido, num dia em que a quadra estava botando gente pelo ladrão.

Depois de ser obrigado a cantar pela quinta vez o samba-enredo “Festa Profana”, ele se virou para Miguelzinho, que tocava caixinha de guerra, e deu um toque:

– E aí, compadre, onde é que eu descolo uma pedra? Estou a fim de dar um pau...

Miguelzinho não perdeu a diplomacia:

– Êi, meu irmão, se tu tá a fim de pau, chama o Lambreta, que toca surdo de resposta. Semana passada, ele rasgou o quincas de uma menina até a xereca. Virou um buraco só... Aquilo sim é pau de dar em doido.

Quinho percebeu que os moleques da bateria não falavam a mesma língua dos pedra-noventa.

Cinco minutos depois, ele interpelou Burana, tocador de tarol:

– E aí, meu irmão. Onde é que tem pó de mármore, pra gente dar uma cafungada?...

Burana não perdeu a diplomacia:

– Porra, meu irmão, a gente não está nem em tempo de papagaio pra fazer cerol com pó de mármore e cortar a tua rabiola. Me erre, parente, que eu não sou chegado nessa onda de cafungar homem não...

Quinho disfarçou, cantou mais duas músicas, e resolveu partir para a confissão sem subterfúgios.

Escolheu um sujeito cabeludo e cheio de tatuagens, o Pedro Orelhinha, um fantástico tocador de tamborim:

– Êi, mano, adianta o meu lado! Eu estou a fim de cheirar, entendeu? Eu estou a fim de cheirar... Eu estou na maior secura há uns três dias. Adianta o meu lado, mano. Adianta o meu lado, que eu tô fissurado e pago legal...

Orelinha não perdeu a diplomacia:

– Qualé, mermão! Aqui nessa quadra a galera se amarra mesmo é em comer ovo cozido! Nóis é tudo pobre, véio! Quando não é ovo cozido é boi ralado ou sardinha em lata, morou? Se tu for cheirar alguma coisa aqui vai ser peido, tá sabendo? Mas já que tu tá muito fissurado, eu vou pagar uma pra ti. Segura aí, cara!...

Aí, virando-se de costa para o cantor, soltou o “pum” mais fedido da história da Reino Unido.

Foi preciso evacuar a quadra para eliminar a fedentina.

Quinho da Ilha pode não ter encontrado “brilho” nenhum na situação, mas jamais vai esquecer da performance de Pedro Orelhinha, baterista da banda punk Prisão de Ventre, tocador de tamborim da Reino Unido e emérito comedor de boi ralado, sardinha em lata, leite azedo com repolho e outras porcarias.

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