quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Nasce a Banda Independente Confraria do Armando



Salignac, Mário Buriti (com o Livro de Ouro), Charles, Manuel Batera, Afonso Toscano e Armando

Está registrado no Livro de Ouro da BICA, com a caligrafia precisa da engenharia civil e professora universitária Heloísa Cardoso:

Foi fundada no dia 17.1.87, por Celito, Afonso Toscano, Manuel e Buriti, tendo como presidente de honra o Armando, e atendendo a antigos anseios dos freqüentadores do Bar e Mercearia Nª Sª de Nazaré – popular Bar do Armando – a B.I.C.A. (Banca Independente da Confraria do Armando), com fins meramente recreativos, situada na Praça São Sebastião, no já citado bar.

Esclarece-se que o local é tradicional ponto de encontro de boêmios, intelectuais e analfabetos, jornalistas, músicos, escritores, juristas e jurados, engenheiros, artistas, políticos incorruptíveis ou não, em suma, halterocopistas de todos os sexos, sem distinção de cor, credo ou política partidária.


Adriano Lima, Simão Pessoa, Anísio Mello, Marco Gomes e Dinari durante uma noitada no bar do português

Tendo em vista o exposto acima, fica estabelecido:

§ Art. 1.º- Como tal, está convocado para brincar na mesma em dia e hora preestabelecidos.

§ 2.º- Como tal, está convocado para contribuir para a mesma, tendo em vista despesas gerais.

§ Art. 2.º- A B.I.C.A propõe-se ao extravasamento sadio, sarcástico e bem-humorado de seus componentes.

§ Único – Fica excluído da B.I.C.A todo componente que não se comportar com o espírito da mesma.

Nada mais havendo a registrar, eu, Heloísa Cardoso, lavrei a presente Ata, que vai pelos presentes assinada.

Manaus, 26 de janeiro de 1987.

Bar do Armando, 19:40 (verão).

Seguem-se 106 assinaturas, muitas delas completamente ilegíveis, e a doação de 312 cervejas. Na época, cada cerveja custava 20 cruzados.

Num texto ao lado das assinaturas dos fundadores, lê-se o seguinte adendo:


O advogado Sergio Litaiff, primeiro à esquerda, durante o casamento de um de seus filhos

“Pelo presente, damos fé pública de que o nome BICA - Banda Independente da Confraria do Armando – foi criação do confrade, ilustre causídico e halterocopista doutor Sérgio Litaiff”.


Armando conversando com Edgar Lippo e Selma Bustamante, do grupo Baião de Dois, com Arnaldo Garcez (de violão) e Ary de Castro Filho (de óculos) apenas observando

Entre as assinaturas legíveis (e a respectiva colaboração em número de cervejas pagas) deu para identificar que entre os fundadores estavam Celito, Heloísa, Mário Jorge Buriti, Afonso Toscano, Américo Madrugada, Aldemar Bonates, Mário Peruka, Glória Mona, Isaac Amorim, Cacá Bonates, Anísio Mello, Theodoro Botinelly, Ivan Silva, Lúcio Carril, Edmilson Salgado, Francisco Cruz, Jomar Fernandes, Walter Salgado, Simão Pessoa, André Gatti, Otacílio Nunes, Rogelio Casado, Deocleciano Souza, Sérgio Litaiff, Eduardo Monteiro, Valdir Correia, Rubelmar Filho, Eduardo Gomes, Mário Adolfo, Everaldo Fernandez, Orlando Farias, Aricilvio Vieira, Rosendo Lima, Amecy Souza, João Valente, Minus Adão Filho, William Soares, Jorge Palheta, Guto Rodrigues, Inácio Oliveira, Carlos Dias, Marco Gomes, Ary de Castro Filho, Jorge Álvaro, José Luiz Klein, Lino Chíxaro e José Anchieta.

A partir daí, seguem-se os agradecimentos às pessoas físicas e jurídicas que, de alguma maneira, colaboraram para a fuzarca:


A construtora Rayol, por meio do Murilo Rayol, colaborou com Cz$ 1.000,00 (mil cruzados) para o pagamento de parte dos músicos da banda.

A EDIL, por meio do Dr. Homero Valente, doou duas grades de cervejas para o consumo dos músicos da banda.

A Gramcitel, por meio de Alcino Filho, colaborou com Cz$ 1.000,00 (mil cruzados) para o pagamento de despesas gerais.


O empresário Braga Neto colaborou com Cz$ 1.000,00 (mil cruzados) para o pagamento de parte dos músicos da banda.

O folião Antenor Mendes colaborou com Cz$ 500,00 (quinhentos cruzados) para o pagamento de despesas gerais.

A DIMEL, por meio do Sr. Eduardo, fez a impressão de 500 cópias da letra da marchinha.

O artista plástico Manoel Borges fez a arte do estandarte sem cobrar um centavo.


O governador Amazonino Mendes, representado pelo secretário municipal de Obras Domingos Leite (aí na foto ao lado de Francisco Cruz), concedeu um carro de som (trio elétrico), que ficou à disposição da banda durante seus festejos de abertura.

Mereceram um agradecimento especial da comissão organizadora pela cobertura do evento os seguintes profissionais da imprensa:

Mário Adolfo, Eduardo Gomes, Gerson Aranha e Carlos Martins (A Crítica), Aldisio Filgueiras (Jornal do Comércio), Elaine Ramos (A Notícia), Paulo Gilberto e Waldir Correia (rádio Difusora) e o psiquiatra e videomaker Rogelio Casado, que documentou o desfile.

Além deles, a comissão organizadora também agradeceu a colaboração de Aldemar Bonates (Porta-estandarte), Glória Mona (Rainha), Dona Petronila (Boneca-viva), Dr. João Valente, William, Ivan, Minus Adão Filho, Luís Carlos Bonates (Cacá), Clemente, Rosendo, Amecy, Armando Dias Soares, dona Lourdes e a todos os foliões.

Por último, é apresentada a “Prestação de Contas”:

Caixa: 312 cervejas assinadas

Cervejas consumidas: 90

Distribuição do consumo: músicos extras (12), compositores da marcha (16), porta-bandeira (6), rainha (10), boneca-viva (10), puxador (12), Manoel Borges – arte do estandarte (12) e comissão organizadora (12).

Saldo: 222 cervejas x Cz$ 20,00 = Cz$ 4.440,00

Doações: Cz$ 3.500,00

Total em Caixa: Cz$ 7.940,00

Discriminação das despesas:

Com pagamento dos músicos = Cz$ 3.200,00

Gratificação do trio elétrico = Cz$ 350,00

Merenda dos músicos = Cz$ 240,00

Carreto p/ grades da EDIL = Cz$ 250,00

Estandarte e fantasia do porta-estandarte = Cz$ 800,00

Jantar pós-promoção (comissão organizadora e convidados) = Cz$ 1.500,00

Gasolina e táxi p/ organização = Cz$ 1.100,00

Fotografias = Cz$ 500,00

Total das Despesas = Cz$ 7.940,00

A prestação de contas é assinada por Heloísa Cardoso e está datada de 17 de fevereiro de 1987.

O primeiro desfile da BICA ocorreu no dia 31 de janeiro de 1987, no “sábado magro” de carnaval, que passou a ser o dia oficial de saída da banda.

O percurso, mantido até hoje, conforme ofício enviado ao coronel Hélcio Mota, então comandante da Polícia Militar do Amazonas, engloba as ruas 10 de Julho, av. Getúlio Vargas, av. Sete de Setembro, av. Eduardo Ribeiro e rua 10 de Julho até o Bar do Armando.


Ainda, no “Livro de Ouro” da BICA, está registrado pela primeira vez o evento que ficou conhecido, nas internas, como “rescaldo da banda”, mas que na verdade era o aniversário do português.

A caligrafia impecável continua sendo de Heloísa Cardoso:

O dia 28 de fevereiro de 1987 surgirá radioso. Por quê?, perguntarão vocês.

Ah! Saibam que no dia 28 de fevereiro de 1935 nascia em Casal do Frade – Conselho de Arganil –, distrito de Coimbra, o pequerucho Armandinho, que recebeu na pia batismal da paróquia o nome de Armando Dias Soares.

Como legítimo filho de agricultor dizem... dizem... que seu berço foi um caixote de cebolas.

Mas, saltando os detalhes de sua infância feliz e laboriosa, fixemo-nos no moçoilo Armando.

O mesmo que no ano de 1952, com 17 anos, embarcava para o Brasil, com destino a Manaus, de onde não mais saiu.

Como poderia voltar pra terrinha, se aqui começou a amealhar seu rico dinheirinho, labutando com seu tio na mercearia existente no canto da Monsenhor Coutinho com Luiz Antony.

Mas, mesmo com o pé-de-meia feito, não haveria mais volta – havia sido fisgado pelos olhos verdes luzentes da senhorinha Maria de Lourdes, irmã do patrício Henrique Soeiro, então proprietário do Bar e Mercearia N.ª S.ª de Nazaré.

O doce idílio foi presenciado e perturbado muitas vezes por antigos confrades, como Aldemar Bonates – A Confraria do Armando sempre foi gaiata.

Encurtando a estória, casaram-se em 1970 e da união nasceram duas flores: Ana Cláudia e Ana Lúcia.

A Casa N. S. de Nazaré, com seu quarto proprietário – os anteriores foram, cada um a seu tempo, Henrique Soeiro, o também lusitano Cruz, e o Cipriano, que mantinha uma oficina de bicicletas, onde hoje é a garagem do carango do Armando –, acabou se transformando no bar mais charmoso da cidade.

Por que tantas loas fazem os freqüentadores de sua casa – a Confraria do Armando – à mesma?

Ah! O Bar do Armando...


Em pé: Roberto Dibbo, Ivan Oliveira, Marco Gomes, Inácio Oliveira, Davi Almeida, Carlos Castro, Carlos Dias, Zemaria Pinto, Braguinha, Hélcio e Socorro Papoula. Agachados: Clóvis, José Anchieta, Simão Pessoa, Armando e Noleto

Cada confrade tem sua impressão, é impossível generalizar. Tentaremos um resumo.

Aqui encontramos a cerveja mais gelada – honestamente, sem regelo – da cidade e a famosa isca de leitão da dona Lourdes.

Aqui encontramos nossos pares, o que torna o bar mais eclético da cidade. Os mais diferentes credos, ideologias, etc, e no final aquele entrosamento.

Isto é a Confraria do Armando.

Registre-se que a Confraria, inicialmente masculina, já há alguns anos conta com a presença feminina, não só enfeitando, mas também discutindo e consumindo a famosa gelada.

Hoje, a Confraria se reúne para homenagear seu Presidente de Honra – o Armando, que está completando 52 outonos.

Parabéns, Armando!

Muitos anos de vida, para que possamos continuar privando de seu convívio.

Parabéns especiais da B.I.C.A.

Seguem-se dezenas de assinaturas, quase todas ilegíveis, com vários votos de felicitações.


Simão Pessoa e Jorge Palheta em mais uma tentativa inútil de esvaziar o estoque de Antarcticas do português

O “Livro de Ouro” só voltaria a ser acionado em dezembro de 1988.

Dessa vez, o autor da Ata é Manuel Batera, com o aval de Celito, Heloísa Cardoso e Arnaldo Garcez:

“Hoje, dezessete de dezembro do ano de mil novecentos e oitenta e oito foi declarada aberta a temporada carnavalesca da B.I.C.A ( não confundir com a temporada de caça ao boto, jacaré, veado e outros bichos menos votados; não queremos questão com o IBFD!).

O período de 17.12.88 a 22.1.89 será dedicado aos ensaios etílicos visando a forma física ideal para a grande performance do dia 21.1.89, quando repetiremos o feito de 1987.

Como reza o artigo primeiro e seus parágrafos: Todo freqüentador do Bar do Armando é componente da B.I.C.A e, como tal, está convocado para brincar na mesma e também para contribuir para a mesma.

Assim sendo, conclamamos os companheiros a cumprirem suas obrigações estatutárias e agradecemos de antemão a alegria e o espírito de confraternização de todos.

Bar do Armando, 17 de dezembro de 1989


Seguem-se dezenas de assinaturas, quase todas ilegíveis, e alguns slogans de ocasião:

“Onde se brinca com amor e se cultua a amizade há paz e alegria!” (Rui Craveiro)

“Amor de BICA onde bate fica” (Mário Adolfo)

“Não sei. Sei que estou aqui. E aqui, tudo vai à nossa vontade. Esta é a vida” (Theodoro Botinelly)

“A BICA não é mole!...” (Simão Pessoa)

“Mas vale uma BICA na mão do que o Mário Adolfo, o Simão e o Manuelzinho voando” (Inácio Oliveira)

“Jornalista tem direito de um dia de folia na BICA” (Isaac Amorim).

O resto são detalhes.

















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