terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Carnaval 1997 - 10 Ânus Amolando a BICA


Na sexta-feira, 13 de dezembro de 1996, o jornal Amazonas em Tempo informava que a BICA estava se reunindo para escolher o novo enredo do carnaval 97 e prestigiar o lançamento da 2.º edição do Manual do Canalha, de Simão Pessoa:

A tradicional Banda Independente Confraria do Armando (BICA) está convidando seus associados, simpatizantes e o público amazonense em geral a se fazerem presentes, na noite de hoje, no Bar do Armando (Praça São Sebastião, Centro), onde será realizada a escolher do tema-enredo do carnaval 97.

O rega-bofe começa às 20h e, entre outras atrações, o escritor Simão Pessoa vai estar presente autografando a 2ª edição do seu irreverente Manual do Canalha, publicado pela Editora Topbooks, do Rio de Janeiro. O livro, que custa R$ 20,00, está sendo resenhado pelas revistas Sexy e Ele Ela, e tem causado frisson nos meios literários do sul do País.

Conhecida do público amazonense pelo modo desabusado com que retrata as idiossincrasias do cotidiano da cidade, a BICA chega dividida à escolha do tema do próximo ano: metade dos brincantes quer homenagear os dez anos de atividades da banda, a outra metade quer ironizar o affair Justiça Federal-Justiça do Trabalho e propôs o tema “Arrombando o Judiciário”.

A decisão vai ser na base do voto direto, com defesa prévia dos temas pelas partes interessadas.

– A tendência é que prevaleça o bom senso –, explica o promotor Francisco Cruz, um dos símbolos da BICA e defensor ardoroso da homenagem aos dez anos da banda.

– A principal característica da banda é fazer gozação em cima das coisas sérias que acontecem em nosso Estado e não há nada mais engraçado do que esse conflito de competência entre duas seções do Judiciário –, dispara o poeta Marco Gomes, defensor intransigente da carnavalização generalizada.

– Se as duas partes não chegarem a um consenso, os biqueiros vão ter de partir para uma terceira via –, atesta o compositor Afonso Toscano, responsável pela marcha-enredo.

O advogado Ari de Castro Filho, que há dois meses vinha tentando ganhar aliados para o seu próprio tema, ainda está indeciso.

– Eu pretendia explorar o narcisismo desses quarentões que um belo dia se olham no espelho, fazem ‘oh!’ e resolvem pintar o cabelo de louro, mas fui voto vencido! –, alfineta. “Tem um monte de gente da BICA entrando nessa onda...”

O alvo do advogado, na realidade, era o escritor Simão Pessoa, que, num momento de leseira baré, pintou o cabelo de vermelho-hemorragia e ficou a cara do personagem de desenho animado chamado Pica-Pau.

– O importante não é a cor dos cabelos na cabeça, mas o que está detro da cabeça! –, devolve o escritor, que diz ter se inspirado no pivô do Chicago Bulls, o desbundado Dennis Rodman, para cometer tal gesto tresloucado.

O psiquiatra Rogelio Casado também defende a homenagem aos dez anos da banda.

– Penso que devemos fazer uma retrospectiva bem saudosista e homenagear todos os biqueiros que partiram desse para melhor –, explica ele.

O psiquiatra tem razão. Apenas nesse ano, a BICA perdeu duas figuras históricas: o professor universitário Rosendo Lima e a agitadora cultural Celeste Pereira.

– Foram perdas irreparáveis, mas homenageando eles nós podemos mostrar que não os esquecemos e que eles continuam presentes em nossos corações –, filosofa Casado.

– As pessoas podem achar que nós estamos capitulando, mas prefiro deixar essa questão da Justiça para ser discutida no âmbito da própria Justiça –, contemporiza o artista plástico Jorge Palheta, lembrando que a BICA já teve problemas no ano passado por tentar ironizar questões parecidas.

Palheta faz o lay-out das camisas e mortalhas que serão usadas pela banda e deve mostrar hoje o logotipo alusivo aos dez anos.

Para a reunião desta noite, os biqueiros esperam o comparecimento em massa dos simpatizantes da banda.

– Tem gente que não participa das discussões e depois fica irritado, reclamando da escolha do tema –, avisa Deocleciano Souza, encarregado de passar entre os presentes o Livro de Ouro das contribuições. “Hoje é o dia dê e depois da reunião, babau! O importante é começar a preparar a marcha-enredo logo, porque no próximo ano o carnaval começa mais cedo”.


Frei Fulgêncio, Petronila e Armando se preparando para descer a avenida

Na quinta-feira, dia 30 de janeiro de 1997, a coluna “Sim & Não”, do jornal A Crítica, publicava a seguinte nota:

BICA

A Banda Independente Confraria do Armando (BICA) virou ontem um autêntico barracão. Várias equipes de biqueiros se revezaram para repintar os bonecos-símbolos da banda, ajudar os operários da Prefeitura a montar o “poleiro”, como é carinhosamente chamado o palanque dos convidados, e acertar com a Polícia Militar os últimos detalhes do policiamento do próximo sábado.

Na sexta-feira, dia 31 de janeiro, a jornalista Nely Pedroso publicava, no Jornal do Norte, a seguinte matéria:

Neste sábado magro de Carnaval as duas mais tradicionais bandas de Manaus – BICA e Mandy’s Bar – saem às ruas da cidade puxando um cordão de foliões e concentrando as atenções dos brincantes mais irreverentes e animados da cidade.

A Banda Independente Confraria do Armando (BICA) amanhece com tudo pronto para comemorar seus “10 Ânus Amolando a BICA”. Até a preocupação do português Armando com a dificuldade de adquirir as 600 grades de cerveja encomendadas para “matar a sede” dos brincantes, manifestada ontem à tarde, vai ter de dar lugar à gozação dos irreverentes biqueiros.

– Vamos vender o que tiver o que tiver! –, disse ele, assegurando que o estoque de ontem estava em apenas 120 grades.

Este ano, como a banda comemora os seus 10 anos, está prometendo grandes surpresas para o desfile pelas ruas da cidade.

Com uma marchinha-enredo sempre polêmica, as vítimas da Confraria do Armando que se cuidem, pois serão lembradas pelos foliões.

A banda da BICA faz críticas à política estadual e municipal, menciona o “Terceiro Ciclo” e lembra que “Ação Conjunta é papo pra boi dormir”, além, é claro, de prestar uma homenagem a uma das assíduas freqüentadoras, Celeste Pereira, que morreu em dezembro do ano passado.

Mas um dos pontos altos da marchinha é o protesto contra o nepotismo que impera no Tribunal do Trabalho, segundo informam os coordenadores.

A Banda da Polícia Militar iniciará a animação da festa, cuja concentração começa por volta das 12h.


O casal de bonecos mais sexy da cidade

No sábado, dia 1º de fevereiro, o jornal A Crítica publicou a matéria “Bandas fazem o carnaval de rua em Manaus”:

Manaus entra em clima de Carnaval. Hoje, espalhadas em diversos pontos da cidade, pelo menos dez bandas prometem fazer a festa dos foliões com muito samba, axé, cerveja gelada e, porque não, todas dos bumbás de Parintins.

A animação no Centro vai ficar por conta da BICA (rua 10 de Julho), do Mandy’s Bar (em frente ao Hotel Amazonas) e da Rádio Difusora (Av. Eduardo Ribeiro).

Se a expectativa dos coordenadores das bandas for confirmada, pelo menos oito mil brincantes estarão invadindo as ruas do centro da cidade.

A Banda da Rádio Difusora, que se concentra a partir das 15h em frente ao edifício Palácio do Comércio, com direito a rainha (a advogada Waldenira Tomé) e duas princesas, terá como atração as bandas Kauane, Fuzuê e a Bateria da Balaku-Blaku, garante o mesmo sucesso do ano passado quando 2,5 mil pessoas prestigiaram a promoção.

Mas a folia não fica só aí. A Banda Sal & Sol promete fazer a festa no Conjunto Débora (rua Mosqueiro com a rua Vigia) e a Banda da Tasmânia repete a dose na Av. Pedro Teixeira.

No Lírio do Vale, a animação ficará por conta da Banda Canto da Amizade (Av. Central), enquanto na rua Japurá, a Banda do Snoopy Bar também está com tudo pronto para a festa.

Do outro lado da cidade, na Praça dos Caranguejos, no Conjunto Eldorado, a Banda do Cuiú-Cuiú espera repetir o mesmo sucesso do ano passado.

Para garantir a animação, os organizadores confirmaram a presença dos grupos Canoeiro, Koka e o grupo Mundurucânia, Embalassamba, e os puxadores Luiz Camilo, da escola de samba carioca Unidos do Viradouro, e Richard, da Portela.

A Banda do Frutão faz hoje uma mistura de ritmos e anima os moradores da Praça 14. Os foliões deverão se reunir em frente a Panificadora Grad’s, na rua Visconde de Porto Alegre, no trecho entre as ruas Leonardo Malcher e Ramos Ferreira, a partir das 16h.

A animação ficará por conta dos grupos Frutos do Pagode, Sucessamba, Banda Paixão, Banda K-Entre Nós, Bateria da Vitória Régia e muita toada com o grupo Kananciuê.

Este é o segundo ano em que a banda anima dos moradores da área, diz Paulinho, integrante do grupo Frutos do Pagode.

A venda de camisas está sendo feita ao preço de R$ 10, no Salão Suspenso, na Visconde de Porto Alegre, com a senhora Graça Braule Pinto.

Irreverência da BICA

Com o charme de reunir artistas, intelectuais e até desocupados, a Banda Independente Confraria do Armando (BICA) realiza hoje o seu tradicional Carmaval.

Pedra no sapato dos políticos amazonenses, a BICA completa dez anos com o mesmo tom de irreverência que sempre a caracterizou.

Em 97, o samba-enredo da banda vem contando a história dos seus carnavais e malhando o nepotismo no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), chegando a citar na letra um de seus juízes mais conhecidos. “Dr. Marinho / Não me leve a mal / Arrume uma boquinha/ No seu tribunal”, diz a letra.

Para todos os efeitos, a autoria do samba é de um grupo de 20 pessoas, incluindo Alberto Simonetti Filho, Domingos Chalub, Francisco Cruz e Jomar Fernandes, todos ligados á área jurídica.

O samba, na verdade, teria sido criado pelo compositor Américo Madrugada. No melhor estilo do deboche e do escracho, os membros da banda decidiram destituir o compositor Madrugada para poupá-lo das perseguições políticas que já se manifestavam.

Segundo um dos coordenadores da banda, Manoelzinho Batera, alguns figurões citados na letra pressionavam para ter seus nomes retirados do samba.

Resistência

O carnaval na BICA tem história. Ele surge efetivamente durante os anos de chumbo, no final dos anos 60, quando estudantes da Faculdade de Filosofia se reuniam no Bar do Armando para discutir política e acabavam em divertidas guerras de talco, ao som de samba dos velhos carnavais.

“Vem dái o espírito de resistência e protesto da BICA”, conta o professor Deocleciano Souza, um dos militantes clandestinos daqueles tempos. “Depois da BICA, o carnaval não foi mais o mesmo”, garante.

Na esteira do vendaval de críticas aos poderosos, surgiram dezenas de bandas, diz o médico José Carlos Santana, lembrando que a BICA criou a sua própria linguagem e neologismo.

A palavra “biqueiro”, por exemplo, incorporou-se definitivamente no “linguajá” para definir brincantes de rua. “Ser biqueiro é um estado de espírito”, define o motorista Antônio Louro, que cuida dos três bonecos gigantes da BICA (Armando, Petronila e Frei Fulgêncio) e que terá um quarto para cuidar a partir de hoje – confeccionado em homenagem a artista Celeste Pereira, falecida ano passado.

Este ano a banda terá três trios elétricos, as baterias das principais escolas de samba de Manaus, a banda da Polícia Militar e apoio de um grupo de policiais biqueiros, além de cinco “Pipi-Móveis” da Prefeitura para não deixar ninguém apertado na praça.

Mandy’s chega aos 16

A Banda do Mandy’s comemora hoje seu 16º aniversário com muita folia. Às 14h30 começa a concentração dos brincantes no calçadão do Hotel Amazonas e às 16h a comitiva sai em cortejo pelas avenidas Getúlio Vargas, Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro.

Apesar de a direção ter anunciado que os festejos vão até 20h, a expectativa é que entre pela madrugada.

Quem tiver seus pudores que deixe-os em casa ao sair para a Banda do Mandy’s, sugerem os foliões mais antigos.

Nada é previsível na banda, cuja principal atração é a participação de travestis, caracterizados ao melhor estilo drag queen. A palavra de ordem é se divertir e não chocar os desavisados.

Foi na Banda do Mandy’s que as “drags” de Manaus começaram a aparecer e a conquistar a simpatia até mesmo dos mais conservadores.

Com suas roupas extravagantes, perucas coloridas e adereços dos mais ousados, elas são, com certeza, uma atração a parte na festa que todos anos carrega centenas de pessoas pelo centro da cidade.

O carnaval da banda do Mandy’s vai ser animado por puxadores de uma das escolas de samba do Rio de Janeiro, garante a direção da banda, que prefere fazer surpresa.

A novidade da Mandy’s para este ano será o sorteio de uma passagem Manaus/ Rio de Janeiro/ Manaus, uma cortesia da empresa Selvatur.

Estará concorrendo ao prêmio o brincante mais animado e fantasiado da festa. A comissão julgadora será formada por jornalistas e colunistas sociais de Manaus.


Simão Pessoa e o compositor Rui de Carvalho

No sábado, dia 1º de fevereiro, o jornalista Mário Adolfo publicou a seguinte matéria no Amazonas em Tempo:

Se você é daqueles que defende a ordem e os bons costumes, aperte o cinto. A Banda Independente da Confraria do Armando (BICA) desfila hoje com o enredo “10 Ânus Amolando a BICA”.

Para quem toma remédio controlado, aconselha-se a não sair de casa. Os rapazes que bebem no boteco do português, o mais tradicional bar do centro da cidade, estão a cada dia mais infernais.

– Quanto mais velhos, mais irresponsáveis eles ficam! – conclui dona Lourdes, a mulher do Armando, que vem suportando há anos o humor indigesto da turma.

Este ano o bicho ameaça pegar mais ainda. Descobriram que a BICA está completando 10 anos. Para brindar a grande passagem, que não poderia passar em brancas nuvens, inventaram um tal de ensaio às quintas-feiras que tem deixado a vizinhança apavorada e o Frei Fulgêncio, da Igreja São Sebastião, de barbas brancas.

Parece que foi ontem. Mas lá se vão dez anos. A primeira vez que a banda do Bar do Armando, aliás, Mercearia Nossa Senhora de Nazaré, desfilou foi num Sábado Magro de 1987.

Até então, só havia em Manaus a banda do Mandy’s Bar, criada pela rapaziada que freqüentava o bar do Hotel Amazonas, no inicio dos anos 80.

A banda foi criada por boêmios que já freqüentavam o bar há alguns anos, entre eles os jornalistas Deocleciano Souza, Aldisio Filgueiras, Inácio Oliveira, o psiquiatra Rogelio Casado, os compositores Celito e a mulher Heloísa Chaves, Américo Madrugada, Afonso Toscano, Mona Glória, o cartunista Palheta e outros.

– A BICA surgiu com uma proposta de contestar o conservadorismo que ainda hoje existe em Manaus. No rastro da Banda do Redonho, em São Paulo, e do Bloco do Pacotão, em Brasília, o que a gente queria mesmo era cutucar com vara curta a ditadura que agonizava em 1986! –, lembra o general da banda, Deocleciano Souza.

Nem tanto. Em seu primeiro ano a BICA saiu com uma marchinha composta por Celito, Toscano e Américo Madrugada, que trazia certa ingenuidade em sua letra: “Na Banda Independente Confraria do Armando/ Tá todo mundo dando/ Tá todo mundo dando.../ Dando alegria para esse pessoal/ Que quer fazer o verdadeiro carnaval/ Não tem baile de Gala/ Não tem baile da Chica/ Vem entrar na BICA/ Vem entrar na BICA...”.

É claro que, na hora de refrão, os irreverentes foliões da banda sempre trocaram a primeira consoante do nome da banda: “Não tem baile de Gala/ Não tem baile da Chica/ Vem entrar na PICA/ Vem entrar na PICA...”.

Como prova de que estava chegando para subverter a ordem, a BICA lançou como destaque o avesso do que estamos acostumados a ter como destaque.

A porta-estandarte foi Petronila – uma velhinha de 70 anos (mas isso em 1986), que todas as noites toma uma cerveja no Bar do Armando e vai embora sem pagar – e o abre-alas foi o ator Aldemar Bonates, que fazia sucesso em um comercial de televisão com o personagem “Téquefim”.

Nos anos seguintes a BICA se transformou no maior foco de protestos da cidade. Políticos, administradores públicos, socialites e outras autoridades que dão brincadeira durante o ano costumam não escapar. Acabam virando enredo da BICA.

Assim, já houve ano em que a BICA gozou prefeitos, governadores, deputados e até ministros. O detalhe é que os autores das letras nunca aparecem. O samba geralmente é psicografado pelas figuras da banda que já faleceram.

– Este ano quem psicografou o samba foi o neguinho Ivan! –, conta Deocleciano, lembrando o jornalista Ivan da Silva, que morreu em 1990.

O limite da ousadia aconteceu no carnaval de 1995, quando a BICA tentou brincar com a Justiça e foi embargada por um juiz.

Ofendido com a letra do samba, o magistrado enviou um ofício ao secretário de Segurança Klinger Costa, proibindo que a letra fosse cantada.

De posse da determinação, no dia do desfile, o xerife se perguntava:

– E agora, como é que eu vou proibir esse bando de malucos de cantarem?

Os biqueiros acharam que um dia só era pouco e resolveram inventar este ano o ensaio da Banda Independente da Confraria do Armando (BICA).

O último foi realizado quinta-feira reunindo mais de 3 mil pessoas que tomaram de assalto o bar do português Armando e se esbaldaram ao som da banda da Polícia Militar e da bateria da Vitória Régia.

A idéia do ensaio saiu da cabeça de dois comandantes da BICA, o juiz Jomar Fernandes e o promotor Francisco Cruz, que fazem questão de disputar a rótulo de comandante.

– A BICA não tem dono. Era dos freqüentadores do bar, agora é de domínio público! –, afirmou o juiz.

A novidade deste ano foi o lançamento de refletores coloridos que iluminam a fachada do boteco.

Hoje, os canhões ficarão apontados para a cúpula do Teatro Amazonas, que geralmente fica apagada quando não tem espetáculo.

– Banda com iluminação é coisa de viado! – diria, com certeza, Simão Pessoa se estivesse no ensaio.

Na BICA acontece de tudo. Onde já se viu um comandante da Polícia Militar visitar um antro de malucos daqueles? Mas foi o que aconteceu.

Na noite de quinta-feira o cel. Orleilson Guimarães fez uma visita ao Politiburo da banda com uma “graaande” preocupação. Com a testa franzida, o simpático coronel expressou o motivo de sua aflição:

– Lamento informar, mas vocês não poderão interditar a rua no sábado. Vai ter um casamento às 16h aqui na São Sebastião.

– Tudo bem, comandante, o duro vai ser explicar para mais de 10 mil malucos, tomando cerveja desde o meio-dia!

Segundo Jomar, para colocar na rua o enredo “10 Ânus Amolando a BICA”, foram investidos nada menos que R$ 7 mil.

Com a contratação de dois trios elétricos e a banda da PM para animar o desfile de hoje, o rombo no bolso dos colaboradores deve chegar a 14 mil.

– Mas para que essa pavulagem de três bandas? – pergunta um folião menos desavisado.

Jomar Fernandes explica: o primeiro trio elétrico tocará de 14 às 16 horas, o segundo entra às 16 horas e vai até às 18 horas, quando a banda da PM entra em campo para puxar o desfile da BICA e inflamar o cabaré até às 23 horas.

Podem inventar fôlego e cerveja.

Umas e outras da BICA – No primeiro ano que desfilou, 1987, a BICA teve o privilégio de exibir um estandarte assinado pelo genial Manoel Borges, artista plástico morto em condições misteriosas em 1988. O “brasão” do estandarte consistia no desenho de uma cueca samba-canção, uma cebola e uma mortadela. Tratava-se de uma referência à letra da marcha que dizia assim: “Nosso estandarte é uma cueca/ Com cebola e mortadela/ Será que é do Armando?/ Será que é do Cancela?”

Cinco dedos – No primeiro dia útil (ou inútil) após o desfile da BICA, seus organizadores – entre eles Celito, Heloísa Chaves, Deocleciano, Manuelzinho, Aldisio Filgueiras, Inácio Oliveira, Simão Pessoa e eu – levaram um susto quando tentaram levantar os erros e os acertos da banda.
– Cadê o estandarte?
Bom, o estandarte, considerado o maior patrimônio da banda pela assinatura do Manoel Borges, foi roubado e até hoje ninguém sabe em que casa a pequena obra de arte se esconde.

Carnaval do Peru – Quando se criou a BICA, a idéia era fazer um carnaval tipicamente português, para sacanear o dono do boteco. O jornalista Eduardo Gomes e o baterista Manuelzinho tiveram a incrível idéia de lançar como fantasia a camiseta branca sem mangas e a cueca samba-canção. A idéia foi aceita. No sábado, por volta do meio-dia, o bar já estava cheio de neguinho com as ridículas cuecas samba-canção. Acontece que não avisaram para alguns patrícios do Armando que por baixo da cueca teria de ser colocado short de banho. Foi aí que naquele primeiro ano muitos brincantes da BICA desfilaram com a cabeça do peru de fora.

Desculpa – No auge do porre, quando alguém chamava a atenção para as regras de bom-comportamento, a desculpa era mais ou menos esta:
– Rapaz, vê se te manca, olha o peru de fora!
– É a mortadela!

Na rede – No desfile de 1996, a BICA sofreu um atraso de quase uma hora porque a rainha da banda, a veneranda senhora Maria Petronila, 80 anos, não havia aparecido. Esgotado o prazo de espera, o juiz de Direito Jomar, que naquele ano comandou a banda, deu ordem para o inicio do desfile.
– Mas e aí, quem vai levar o estandarte? – questionou o promotor Francisco Cruz, o Chicão.
Não se sabe de onde surgiu uma gata que era um verdadeiro avião para desfilar com a BICA na mão. Mas seu reinado durou pouco. No meio da Getúlio Vargas, Petronila apareceu correndo, depois de ter sido transportada de sua casa até o desfile dentro de uma rede, e a gostosona foi quase arrancada a tapas da frente da banda.

No fígado – Um irreverente repórter de tevê, Jomar Jr., teve a coragem de tentar entrevistar ao vivo o poeta anarquista Simão Pessoa, em plena efervescência da BICA:
– Simão, pra você o que é coisa de viado?...
– É ficar fazendo entrevista em bar onde a gente só quer beber em paz!
(Toiimmmm!!)

Saudades da BICA – Em 1996, a anarquista BICA contou com um reforço de peso. O artista plástico e compositor Rui de Carvalho veio do Rio de Janeiro exclusivamente para participar do desfile. Rui foi programador visual do Jornal do Brasil por 23 anos, teve o LP Enfieira incluído entre os 10 melhores discos independentes de 1984 e já expôs suas telas até na Alemanha. Na época, trabalhava numa mostra chamada “A Magia do Boi-Bumbá”, inspirada no folclore de Parintins. Segundo ele, a exposição teria a presença de bailarinas de toadas, apresentação de peças sobre lendas amazônicas e uma ala do GRES Salgueiro, que naquele ano desfilou com um enredo sobre o boi. Amazonense vivendo há mais de 20 anos no Rio, Rui de Carvalho, ao desembarcar, foi direto para o mercadão Adolpho Lisboa tomar munguzá e olhar o rio Negro, que já cantou tantas vezes.

Dez Ânus Amolando a BICA

Autores: Little Ivan e Pepeta
Médium: Américo Madrugada

Ação conjunta é papo
Pra boi dormir
Charles rouba de lá
E Armando rouba daqui (bis)

Pode me bater
E até me matar
Que a minha BICA
Agora vai se levantar

Celestiou!!!
Hoje eu tô que tô
Cheio de amor
Eu sou folia
São dez anos de alegria
Minha BICA, quem diria?
Virou tema musical

Falando no Terceiro Ciclo
Da Zélia e do compadre Cabral
Oh! Oh! Oh!
Extraditando o Armando
Que levou bronca
Do Lalá do Tribunal!

Doutor Marinho
Não me leve a mal
Quero uma boquinha
No seu tribunal
Trabalho não é comigo
Mas posso tocar pandeiro
No seu regional

Zequinha! Zequinha!
Vou te mandar de volta
Pro Recife de tanguinha.


Patrícia Furacão exibindo o estandarte negro pelo luto da banda

No domingo, dia 2 de fevereiro, o jornal A Crítica publicou a matéria “Bandas agitam o carnaval de Manaus”:

As principais ruas da cidade fervilharam ontem com a animação das bandas de carnaval. O Centro da cidade foi responsável pela maior concentração de foliões graças a irreverência de bandas tradicionais como a Banda Independente Confraria do Armando (BICA), Mandy’s e Difusora que costumam, somadas, reunir mais de 10 mil foliões.

A Banda da BICA veio este ano contando a história de seus carnavais, mas a crítica política não foi esquecida: o alvo desta vez foi o nepotismo (contratação de parentes em cargos públicos) do Tribunal Regional do Trabalho (TRT).

Ontem, além dos já tradicionais bonecos gigantes Armando, Petronila e Frei Fulgêncio, a BICA levou para a rua 10 de Julho a boneca Celeste Pereira, em homenagem a artista que morreu ano passado.

O percurso da BICA teve de ser alterado. Seus organizadores saíram da 10 de Julho para passar pela Getúlio Vargas e Sete de Setembro, retornando pela José Clemente. Tudo isso para não se encontrar com a Banda da Difusora, que este ano se concentrou na avenida Eduardo Ribeiro.

“A BICA não se mistura com ninguém”, brincou Nelson Cidadão, um dos coordenadores da banda. “É que a gente prefere curtir nosso próprio carnaval”, explicou.

A Banda do Mandy’s fez carnaval misturando folia com festa de aniversário. É que ontem ela também estava comemorando seu 16º ano de carnaval de rua, comprovando ser uma das mais antigas de Manaus.

Com o coração como símbolo, a Banda da Difusora decidiu ficar apenas concentrada na Eduardo Ribeiro. A radialista e uma das organizadoras da bnada, Elyeide Menezes, disse que o objetivo era reunir as duas outras bandas do centro, Mandy’s e BICA, para reviver os antigos carnavais realizados na avenida Eduardo Ribeiro.

Como atrações, eles levaram as bandas Yamã, Kauani, Fuzuê, além da participação da bateria da escola de samba Balaku-Blaku e do cantor Klinger Araújo.

A animação tomou conta do Conjunto Eldorado com a Banda do Cuiú-Cuiú. As atrações ficaram por conta do Embalassamba, Grupo Canoeiro e Mundurucânia, misturando samba com toadas de boi.


Patrícia Furacão e Petronila convocando a galera para começar a sambar

No domingo, 2 de fevereiro, a coluna “Sim & Não”, de A Crítica, publicava a seguinte nota na seção “Pinga-fogo”:

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Amazonas ousou ontem na BICA: levou a sua UTI-Móvel para a Praça São Sebastião, a pedido dos coordenadores da banda. “Na BICA é onde há mais advogados por metro quadrado do Amazonas durante o carnaval”, diz o presidente da entidade, Alberto Simonetti Filho, um biqueiro fanático.

Na terça-feira, 4 de fevereiro, a coluna “Sim & Não”, de A Crítica, publicava as seguintes notas:

Nepotismo?

Um jornalista não gostou de ver a Banda Independente Confraria do Armando (BICA) “privatizada” numa área ao lado do Bar do Armando, onde só entravam alguns diretores, convidados especiais e parentes. Isso seria uma prova de nepotismo, diz o jornalista, que também não gostou da banda ter tocado muito pouco o samba-enredo condenando o empreguismo no Tribunal Regional do Trabalho.

Outro Lado

A banda da BICA responde: “A área em questão foi criada para dar tranqüilidade a autoridades. No último sábado, por exemplo, estavam lá o desembargador Djalma Martins, três juizas, o deputado federal João Thomé Mestrinho, o ex-vice-prefeito Félix Valois, o auditor fiscal Serafim Corrêa e o presidente da OAB, Alberto Simonetti”, diz Jomar Fernandes, pela coordenação da BICA.

Danos

Havia tanta gente no último sábado na BICA – cerca de 20 mil pessoas, segundo cálculos dos organizadores – que dois dos bonecos gigantes da banda foram destruídos: o do Frei Fulgêncio e o da Patronila. Com tanta gente assim, um casal de noivos não conseguia chegar perto da Igreja São Sebastião, onde se casaria. Foi preciso a PM fazer um pequeno “corredor polonês” para garantir o casório.

No dia 9 de fevereiro, o “Informe JN”, do Jornal do Norte, publicou a seguinte nota:

Em sua segunda performance carnavalesca de fevereiro, a Banda Independente da Confraria do Armando, BICA, celebra tradicionalmente dia 28 próximo o aniversário de seu fundador e patrono, o português Armando. Este ano o destaque da festa ficara por conta do jornalista José Ribamar Bessa Freire, agredido recentemente no Rio de Janeiro a mando de políticos amazonenses. Bessa será convidado a escrever o roteiro de sua preferência e – para não correr risco de vida – sua segurança ficará por conta dos policias biqueiros Mariolino Brito, Lamego, Ventilari e Otávio.


O mamulengo da Celeste Pereira, que faleceu com seis meses de gravidez


O agito durante a saída dos Demônios da Tasmânia do boteco


Reunião dos biqueiros para a foto oficial com suas camisas de luto


Chicão Cruz, Pedro Paulo, Jomar Fernandes e Orlando Farias no ex-Curral da Vaca Louca


O início do desfile da banda na rua Dez de Julho


A muvuca ficando cada vez mais federal


Desfile da banda na Getulio Vargas, já chegando na Sete de Setembro

Na quinta-feira, 20 de novembro, o poeta Simão Pessoa escreveu o texto “Sobre bandas, pagodes e toadas”, publicado no Amazonas em Tempo:


Chico da Silva batendo em um pandeiro sem tirar o olho do outro

Dentro de três meses começa o reinado do Momo. Aproveitando a deixa, farei o que muitos chamam de Elogio da Loucura.

Nas próximas linhas direi que a história do nosso carnaval de rua pode ser contada antes e depois da existência do Em Tempo e me imiscuirei nessa questão atual que coloca sambistas e toadeiros em campos opostos, numa espécie de luta fratricida.

Escrevo sobre tal assunto por represália: esse corte epistemológico visa colocar as coisas no seu devido lugar e dar nome aos bois, antes que algum aventureiro o faça.

Espero não me tornar um Salmon Rushdie perseguido indiscriminadamente por historiadores furibundos e beligerantes frustrados.

A Banda Independente Confraria do Armando tem a mesma idade do jornal: dez anos. Até aí, tudo bem, as coincidências acontecem e por isso mesmo se chamam coincidências.

Esqueçam aquela bobagem da sincronicidade dos eventos, pedra angular da teoria do caos.

Esqueçam também o fenômeno El Niño (esse não, o outro), irresponsavelmente responsabilizado por tudo de não-previsível que acontece no universo, incluindo a quebradeira dos tigres asiáticos.

A vida, apesar de todas as Medidas Provisórias do FHC, não se se resume a fazer maldades contra a Zona Franca.

Vou contar o fato como presenciei. Repetirei isso em juízo, se for necessário.

Há cerca de seis anos, provavelmente inspirada em Fernand Braudel – que dizia que o rotineiro é o grande vilão da história –, a jornalista Hermengarda Junqueira chamou o também jornalista Eduardo Gomes na sala de reuniões da Redação e sapecou:

“Por que você não faz um levantamento completo das bandas de carnavais existentes na cidade e começa a divulgar esse pessoal, em vez de ficar nessa rotina anual de encher a bola da BICA?”

O Eduardo Gomes pegou o pião na unha e acabou dando um verdadeiro banho de cobertura sobre o nosso, até então escondido, carnaval de rua.

Entre outras bossas, ele colocou o endereço dos locais de ensaio e um cronograma completo sobre o desfile de cada banda.

A divulgação dessas bandas na página nobre do jornal, com direito a chamadas, fotografias coloridas e diagramação à altura, provocou uma reação em cadeia e novas bandas começaram a pipocar nos quatro cantos da cidade.

Ponto para a Hermengarda, pela clarividência de águia. E ponto para o Eduardo, que em vez de tomar a proposta como uma sutil reprimenda encarou a pauta como mais um desafio a ser vencido.

Saber como ele desencavou as bandas carnavalescas existentes na Alvorada, Cidade Nova, Cachoeirinha, Eldorado et caterva é algo que só está autorizado para depois das 22h da quarta-feira de cinzas. E, assim mesmo, se não amanhecer chovendo.


Sim, porque até então pensava-se que o carnaval de rua estava restrito ao centro da cidade por causa das bandas Mandy’s, BICA, Calçada Alta e Difusora, as mais tradicionais e conhecidas, que dividem irmanamente o território compreendido entre a Ramos Ferreira, Getúlio Vargas, Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro.

Foi uma bela surpresa saber que a brincadeira era compartilhada por foilões anônimos nos mais diversos bairros de Manaus.

No ano passado, já haviam sido computadas cerca de 40 bandas. Como cada uma arrasta cerca de 3 mil brincantes, temos uma idéia de quantas pessoas se envolvem na folia.

Essa ladainha toda foi para jogar um balde de água fria nessa “briga” injustificável entre sambistas tradicionais e adeptos de toadas.

Na minha modesta opinião, quem gosta de frevo, marchinhas e seção de sopros vai continuar brincando nas bandas. Os 120 mil foliões que frequentam as bandas que o digam.

Assim sendo, quem gosta de samba vai continuar se divertindo nas quadras das escolas e nas rodas de pagode.

E quem gosta de toadas vai continuar prestigiando os currais de bois, onde tocam toadas.

É essa democratização do gosto musical que dinamiza a cultura de uma raça.

Querer culpar a turma do boi pela indigência das escolas de samba é uma palhaçada sem tamanho.

Na última sexta-feira, quinze mil pessoas foram ao Olímpico Clube prestigiar o lançamento do disco do GRES Salgueiro, que homenageia os bumbás de Parintins.

Quem esteve lá diz que a turma do boi roubou a festa. Acredito.

Não fui porque meu organismo não desenvolveu anticorpos contra ouvir toadas fora da época junina. Mas quero deixar bem claro que desde a Lei Afonso Arinos trato como igual quem ouve toada o ano inteiro.

Agora, se as escolas de samba de Manaus não conseguem atrair 15 mil pessoas para seus ensaios, esse problema é delas, não do público.


Arlindo Jr. e David Assayag improvisando uma roda de samba

Não custa lembrar mais uma vez que o meu estimado Arlindo Junior começou sua carreira musical como segundo puxador de samba do GRES Andanças de Ciganos, antes de se mudar para Parintins e virar o Pop da Selva.

O Casagrande era animador das rodas de pagode do GRES Reino Unido e até hoje costuma aparecer na quadra da escola para dar uma canja.

O rei David Assayag também já foi sondado para puxar o samba enredo de uma grande escola da cidade e as negociações estão indo de vento em popa.

E o que dizer do genial Chico da Silva, que nada de braçada tanto no samba de raiz como nas toadas mais autorais e emblemáticas?

Ou seja, essa suposta “briga” entre sambistas e toadeiros só existe na cabeça de meia-dúzia de desmiolados e esconde uma coisa meio fascista: a busca da reserva de mercado, essa forma esdrúxula de premiar a incompetência.


Klinger Araújo botando a cunhan poranga pra gingar

Tenho o maior respeito pelos sambistas locais, gosto de rodas de pagode, frequento o “Botequim dos Bambas”, do Ormando Barbosa, na TV Cultura, adoro o Fundo de Quintal e o Cacique de Ramos, mas também é forçoso admitir que me acho na obrigação moral de defender com unhas e dentes o trabalho do Klinger Araújo, Carlos Batata, Tony Medeiros e companhia.

Numa cidade que busca ser cosmopolita, seria um oportunismo cínico inominável ficar calado contra a tentativa de satanizar o trabalho da turma do boi apenas porque eles conseguem mexer com o inconsciente das massas e são sucesso consagrado de público.

Como diria o Marquês de Guaramiranga, “the hole is over down”.

Apenas para encerrar. Quem não ficou emocionado ao ver o nosso David Assayag recebendo uma comenda de mérito cultural do atual presidente da República?

E quem não se orgulha de ver o Zezinho Corrêa, apesar do figurino brega cada vez mais caidaço, remexendo suas madeixas louras no Programa do Gugu, Ratinho Urgente, Program Hebe Camargo e tantos outros?

Mais uma vez é forçoso admitir que eles só chegaram aonde chegaram graças à força das toadas, nosso mais genuíno produto musical de exportação.

Vida longa aos levantadores de todas, aos dirigentes de Caprichoso e Garantido, aos brincantes dos bumbás e, principalmente, ao hospitaleiro povo de Parintins, onde essa alegria toda começou.

Vida longa, também, para os dirigentes e brincantes de escolas de samba e de banda carnavalescas, incluindo os passistas, pagodeiros, ritmistas, sambistas, funkeiros, roqueiros, reggaemaníacos, clubbers, blueseiros, trip-hoppers, breakers, românticos, headbangers, sertanejos, forrozeiros, bregueiros, metaleiros de Cristo, punks de boutique, adeptos da surf music e o diabo a quatro.

Afinal de contas, o que seria do Evan Dando se todos gostassem do Bon Jovi?

Eu, particularmente, abomino os dois, mas defendo o direito de eles tocarem nas FMs da vida sempre que o programador musical quiser. É isso aí!


Post Scriptum:

Em 2000, três anos depois dessas minhas diatibres, o secretário de Cultura Robério Braga instituiu o Carnaboi, que ocorre no Sambódromo na segunda e terça-feira gorda de carnaval e costuma atrair mais de 200 mil pessoas.

Para muitos sambistas locais, eu tenho boca de praga. Fazer o que?

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