terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Carnaval 1993 - Ex-Tradição


Em 1992, o governo português resolveu rasgar unilateralmente o Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre Brasil e Portugal e passou a extraditar brasileiros que residiam irregularmente no País.

Portugal começou perseguindo os dentistas, depois os travestis e , por último, todos os turistas brasileiros cujo visto de permanência havia se esgotado.

A crise diplomática sem precedentes entre os dois países-irmãos acabou repercutindo na BICA.


Na sexta-feira, dia 12 de fevereiro de 1993, o jornal Amazonas em Tempo publicava a seguinte matéria:

A Banda Independente da Confraria do Armando (BICA) sai amanhã às 16 horas, mas desde ontem os biqueiros já estão concentrados no Bar do Armando. O motivo é um só. Eles estão esquentando as turbinas para arrebentar a boca do garrafão, levando às ruas uma demonstração bem humorada de sua irreverência, esta, por sinal, sua característica maior.

Como já é de praxe, há seis anos a Banda Independente da Confraria do Armando vai buscar inspiração em temas políticos para o seu carnaval. Este ano a história se repete.

Inspirada na recente crise diplomática entre Brasil e Portugal, com a extradição dos brasileiros da “santa terrinha”, a BICA resolveu satirizar em tom de carnaval a extradição do português Armando, com o tema Ex-Tradição.

Segundo o compositor Afonso Toscano, a idéia de fazer esse tema surgiu quando um grupo de brasileiros ficou detido no aeroporto de Lisboa e tiveram seus passaportes confiscados pelas autoridades lusitanas.

Antenada como sempre, a confraria, que é constituída na maioria por brasileiros, não titubeou, e propôs, em represália à atitude do governo português, a extradição de seu presidente de honra.

Começava ai a ser traçado o destino do lusitano Armando, agora transformado em “bode expiatório”.

A notícia correu os quatro cantos da cidade. Foi um deus-nos-acuda. “Até um ofício do cônsul de Portugal, para que Armando não seja extradito, a confraria recebeu”, afirma Manuelzinho Batera, um dos fundadores da banda.

As pressões não pararam por aí. Surgiu, também, um boato dando conta de que até o ministro da Justiça, Maurício Correa, havia sido acionado para resolver o impasse.

De acordo com fontes palacianas, o ministro comovido pela manifestação de carinho e apreço demonstrado – mal sabia ele a influência que tinha o livro da “pindura” – pelo lusitano, decretou que, entre todos os portugueses que residiam em Manaus, Armando seria o único a permanecer “em plaga baré”.

Mas frente às pressões que vêm sofrendo os confrades da BICA, a resolução da confraria só será tomada sábado, na volta da banda, diz Manuel, que faz um alerta: os biqueiros devem comparecer em massa nesses últimos dias que antecedem a saída da banda “pois poderão ser os últimos dias”, já que sábado será decidido se Armando fica ou volta para Portugal.

A concentração da banda começa às 11 horas da manhã e não tem hora para terminar.

Este ano, diferente dos anos anteriores, as camisetas e cuecas samba-canção – que dão à banda o toque final da irreverência dos freqüentadores do bar – não foram distribuídas gratuitamente.

Em face da crise, elas foram vendidas ao preço de 80 mil cruzeiros. E a razão foi uma só. A ajuda recebida de seus patrocinadores – cerveja Antarctica e Caninha 61 – foi usada para comprar as camisas e pagar os músicos.

O carro de som e as faixas também foram financiados pelas duas empresas. O dinheiro arrecadado com a venda das “fantasias” foi usado para as despesas gerais.

A letra da marchinha também presta uma homenagem ao poeta Ernesto Penafort, autor do livro Azul geral e freqüentador assíduo do Bar do Armando, que havia falecido em junho de 1992.


O sex symbol Salignac fazendo pose para o fotógrafo, enquanto estava sendo monitorado por Manuel Batera, Chicão Cruz e Lucia Antony

Ex-Tradição

Autores: Américo Antony e Farias de Carvalho
Médiuns: Celito e Afonso Toscano

Se o azul é festa,
É azul geral
Vem brincar na BICA
Neste carnaval (bis)

Vou te mandar de volta, Armando,
Pelo Guaramiranga
Dentro de uma caixa de cebolas
Vestido só de tanga

O índio Ivan dizia
Que neste carnaval
Ia mandar os galegos
De volta pra Portugal

Bonates despacha o passaporte
Chicão promove a extradição
A herança fica com Charles
A BICA, a cerveja e o leitão

Aceita a canção amiga
Foi Salignac quem pediu
Pra mandar todos portugas
De volta pra ponte que caiu

Lurdinha, Lurdinha!
Tu vais voltar
De tamanco
Pra terrinha (bis)


Carlos Almeida, Mário Adolfo, Ricardo, Simão Pessoa, Zemaria Pinto e Engels Medeiros


Engels apontando o dedo para Laerte Aguiar, com Said Almeida no cercadinho


Socorro Andrade, Rogelio Casado, Carlos Almeida, Mário Adolfo, Armandinho Guimarães e Engels Medeiros


A multidão se preparando para ganhar as ruas da cidade

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