domingo, 30 de janeiro de 2011

Chorando na BICA


Na quinta-feira, dia 17 de maio de 2001, o jornal Diário do Amazonas publicava a seguinte matéria:

A escrachada BICA (Banda Independente Confraria do Armando) volta à ativa hoje, a partir das 18h, na sua sede, o famoso Bar do Armando, de propriedade de Armando Soares.

E para brindar os biqueiros, como são conhecidos os freqüentadores do lugar, a diretoria da BICA decidiu reativar suas atividades lítero-musicais com uma homenagem especial ao músico, poeta e escritor Áureo Nonato, autor do romance Os Bucheiros e de Canção de Manaus, composição considerada como um dos hinos oficiais da capital do Amazonas.

Na ocasião, a banda Chorando na BICA estará fazendo a sua estréia no cenário boêmio, trazendo figuras da velha-guarda da BICA, como os músicos Altair Nunes, Mestre Betão, Toninho Sax Animal, Onércio, Agnaldo, Roseane, Manuel Batera, Cláudio e Dudu Polícia.

Apesar de estreante, a banda avisa, com o humor que é peculiar aos integrantes da BICA, que “traça o que vier pela frente”, tocando de tudo um pouco,: bolero, samba, pagode, jazz, blues e até o infame funk carioca.

Dentro da programação, cuja atração principal é a cerveja gelada servida a cada cinco minutos, acompanhada do inconfundível sanduíche de pernil que é a marca registrada do Bar do Armando, a diretoria da BICA avisa que o palco estará aberto à participação de músicos, atores e poetas, habituais freqüentadores do bar, caso queiram dar sua contribuição espontânea com performances.

O motivo da homenagem dos biqueiros a Áureo Nonato são os 80 anos de vida completados pelo escritor no dia 1.ºde abril, que por coincidência é também o Dia da Mentira. “Será que eu sou um mentiroso?”, brincou Áureo Nonato, ao informar a data de seu nascimento.

Sem parar de escrever e cantar, que é seu hobby favorito, Áureo Nonato é crítico e costuma ironizar fatos políticos e a sociedade local em seus romances, crônicas e poesias.

Ele completou o primário no grupo escolar Olavo Bilac e fez até o primeiro ano do ginásio no colégio Dom Bosco. O escritor se orgulha de sua formação acadêmica. “Aprendi rudimentos de francês e latim e sempre fui tido como uma criança inteligente”.

Áureo garantiu que é o único amazonense até hoje a ganhar um prêmio da Academia Brasileira de Letras. Em 1982, ele conquistou o prêmio Osvaldo Orico com o livro Os Bucheiros, que é um memorial de infância.

A obra foi aumentada e ilustrada para uma 3º edição, publicada pela Valer Editora.

O livro, além das histórias dos amigos de Áureo, descreve com precisão a Manaus de 1921 a 1938.

Além de Os Bucheiros, Áureos Nonato escreveu Pitombas e Biribás, livro formado por uma coletânea de crônicas e poemas publicados nos jornais da cidade, e Porto das Catraias, publicado pela Imprensa Oficial e que conta as lembranças da juventude do autor e sua viagem para o Rio de Janeiro como voluntário do Exército, em 1938, no navio Prudente de Morais.

Atualmente, ele está escrevendo um livro que fala sobre a atual fase de sua vida e deverá chamar-se Batelão de Ilusões ou A Solidão Não Me Dói. “O título definitivo ainda não está escolhido”, revelou o autor. “Este livro vai mexer com muita gente. Conto coisas hilárias e ridículas que aconteceram ao meu redor”, comentou.


Na quinta-feira, dia 31 de maio de 2001, o jornal Amazonas em Tempo publicou a seguinte matéria:

Hoje, às 20h, o Bar do Armando vai ferver. A pretexto de homenagear a rainha da BICA, Petronila Machado, os diretores da mais badaladas agremiação etílico-carnavalesca de Manaus vão comandar uma noitada sui generis, misturando funk, pagode e música brega.

Acredite se quiser, mas a noite de hoje no Bar do Armando vai ter funk e rap de verdade, com o grupo Cabanagem, filiado ao Movimento Hip Hop de Manaus.

Vai ter samba de raízes, com os grupos Chorando na BICA e Ases do Pagode.

E ainda vai rolar aqueles bolerões xaroposos dos anos 50, interpretados pelo inimitável Demóstenes “Dedé” Carminé.

O escritor Simão Pessoa aproveita a noitada para autografar seu último livro, Funk: a música que bate, uma pequena radiografia da música negra americana nos últimos 50 anos.

“É bom deixar claro que o verdadeiro funk não tem nada a ver com o som, as letras e as coreografias grotescas das cachorras, popozudas, tchutchucas, tigrões e similares”, apressa-se a esclarecer o escritor.

“Aquele rebolados e tremeliques convulsivos ao som de coisa como só um tapinha não dói ou vou passar cerol na mão é a diluição da diluição do funk e uma falta de respeito pelo James Brown, George Clinton e Public Enemy”, dispara Simão.

Segundo o poeta Marco Gomes, um dos organizadores da fuzarca, os biqueiros não têm nada contra o fato de grupos de garotos cariocas pobres ganharem dinheiro e fama às custas de sua vocação musical.

O problema, diz ele, é a massificação que a mídia impõe, martelando diariamente hits do Bonde do Tigrão, de MC Naldinho, MC Bela, MC Beth e outros tantos que acabam sendo replicados na Zona Franca.

“É sempre assim, quando a mídia do Sul do país determina a onda que agrada ao público consumidor – de discos, shows, TV e rádio –, os programadores musicais de Manaus embarcam na canoa e esgotam a paciência de Deus e do mundo”, detona o poeta.

“Temos bastante experiência nisso, já fomos atacados por menudos, lambadas, dupla sertanejas, grupos de axé com louras e morenas que dançavam na boquinha da garrafa e até por pagodeiros de voz chorosa e muita água oxigenada no cabelo. Só que aqui na BICA, o buraco é mais embaixo”, avisa.

O apresentador oficial das quintas musicais, Manuel Batera, faz coro com Marco Gomes.

“A BICA é a única banda carnavalesca que não segue a moda. A gente é que faz a moda, porque valoriza as raízes. Nos nossos desfiles só toca marchinha e samba-enredo”, explica.

“Apesar do ecletismo das nossas promoções musicais, só colocamos para cantar quem se identifica com aquilo que vai cantar. Vocês não vão ver aqui um cantor de toadas cantando música brega ou um roqueiro querendo cantar MPB”, emenda.


Na quinta-feira, 21 de junho de 2001, o jornal Diário do Amazonas publicava a seguinte matéria:

A Banda Independente Confraria do Armando (BICA) apresenta nesta quinta-feira a cantora Francis Ray.

Segundo a coordenação da BICA, Francis Ray já tem 22 anos de carreira e, em agosto, prepara-se para estrear nacionalmente nos palcos do Domingão do Faustão, Gugu Liberato, Raul Gil e Fábio Jr.

A programação no Bar do Armando começa a partir das 02h com o irreverente grupo Chorando na BICA.

Francis cantará músicas de seu CD “Indiferença”, uma gravação independente que traz no repertório sucessos de autoria da própria Ray e da cantora Roberta Miranda.

Cantora do estilo brega, Francis Ray ficou conhecida por ter ousado bancar os custos do próprio CD.

Depois disso, a gravadora Atração Fonográfica, de São Paulo, a contratou e está responsável por divulgar para todo o país a atração brega amazonense.


Na quinta-feira, 26 de julho de 2001, o jornal Amazonas em Tempo publicava a seguinte matéria:

Antes considerado artigo kitsch, o brega aos poucos vai saindo da periferia, tomando conta das casas noturnas de Belém e atingindo um público “mais cabeça”.

O mesmo fenômeno está ocorrendo em Manaus.

Depois do estouro de Roberto Vilar e Wanderley Andrade, o brega paraense nunca mais foi o mesmo.

Mudaram as letras que superaram o romantismo escrachado e agora apelam para o bom humor, mudou a melodia – o brega calypso ou pop-brega, com uma batida que lembra muito o rock dos anos 50, é a sensação do momento –, e mudou também o público.

Considerado um dos responsáveis por esta nova roupagem do brega, o cantor paraense Sandro Aragão se apresenta hoje, a partir das 21 horas, no Bar do Armando em um show acústico.

Ele vai aproveitar a ocasião para lanças seu 2.ºCD, “Na Onda do Pop-Brega”.

O disco traz como música de trabalho a canção “Infidelidade”, que já é uma das mais tocadas na capital do Pará.

Além das músicas de seus dois primeiros discos, Sandro também vai fazer alguns covers de Eros Ramazzotti, Luchio Dalla, Carlos Santana e Pink Floyd.

A cantora Lucinha Cabral e o grpo Chorando na BICA fazem a abertura do show.

O Bar do Armando fica na rua Dez de Julho, s/n, no entorno da praça São Sebastião. Não será cobrado couvert artístico.

Investindo num visual extravagante – roupas colantes, paletós de tecidos brilhantes, coletes de veludo cotelê, botas com salto quinze e um rebolado cheio de malícia –, os cantores de brega apostam no marketing para conquistar o público.

Daí que nos últimos tempos surgiram o “robô do brega” (Johnny Souza), o “anjo do brega” (Júnior Neves), o “animal do brega” (Kannydia), o “tigre do brega” (Robson Prado), o “índio solitário do brega” (Carlos da Luz), a “fera do brega” (Vidal), o “louro do brega” (Adilson Ribeiro) e o “anormal do brega” (Rubens Mota), que, nos shows, costuma sair de dentro de um caixão e cantar com um par de chifres de néon na cabeça.

O cantor Sandro Aragão já está sendo considerado o “alfenim do brega”, porque tem uma voz tão meiga e doce que às vezes chega a soar enjoativa. Isso pode ser confirmado na interpretação personalista que ele fez para o hit “Leviana”, de Diogo.

A música é quase um clássico da dor-de-cotovelo: “(...) Você ficava sussurrando junto ao meu ouvido/ Mentiras misturadas com o seu gemido/ E eu acreditava na sua palavra.../ Leviana”.

A pegada da guitarra surf-music é a senha para que, de rosto colado e corpos juntinhos, os casais rodopiem pelo salão sem dar bola para ninguém.

“Gosto do pop-brega porque é um ritmo autenticamente paraense e que faz parte da idiossincrasia do caboclo da região”, diz o cantor.

A opinião de Sérgio Aragão é compartilhada por alguns freqüentadores assíduos do Bar do Armando.

“Acho que hoje praticamente não há mais preconceito em relação ao brega. Quem vem ao Bar do Armando nas quintas-feiras, por exemplo, sabe que vai ouvir brega a noite inteira e é exatamente isso que o povo quer”, diz Osvaldo Peduto, técnico de estúdio que começou como DJ da boate Everlast, no bairro da Raiz. “Antes eu só curtia house de Chicago, mas de tanto escutar brega acabei gostando. Acho que entrou no sangue”.

Para o juiz do Trabalho Jorge Álvaro, a questão é mais simples.

“Acho que o brega nunca saiu de moda”, diz ele. “A diferença era que antes esses cantores não tinham apoio da mídia e hoje até pessoas metidas a intelectuais, que não estavam acostumadas com o ritmo, vêm assistir seus shows. Neste aspecto, o Bar do Armando está contribuindo decisivamente para a democratização musical da nossa cidade”.


Na quinta-feira, 23 de agosto de 2001, o jornal A Crítica publicou a seguinte matéria:

Como parte do projeto “Chorando na BICA”, acontece hoje, no Bar do Armando, às 21h, o show da cantora Lucinha Cabral & Banda, formada pelos músicos Marinho, na percussão, Márcio, na guitarra, Marcelo Picanço, no contra-baixo, e a bela voz de Lucinha, também no violão.

Se a cantora vivia com o pé na estrada, agora, com a chegada do filho Pedro, ela entra de corpo inteiro na luta e promete excelentes performances durante a noite.

No show, ainda será possível comprar e ter o autógrafos de Lucinha no último CD que gravou em conjunto com o músico Cleber Cruz.

No próximo sábado, 25, a banda também se apresenta na “Feijoada da Lucinha”, no Restaurante Bangalô, com a participação especial do músico Pepê Fonan. O telefone para reserva de mesas para a feijoada é 611-7997.


No dia 31 de setembro de 2001, o jornal Diário do Amazonas publicou a seguinte matéria:

Os boêmios de plantão estão em estado de graça. É que a partir das 21h de hoje, o Bar do Armando traz de volta o projeto “Chorando na BICA”.

E para comemorar o reinício dos shows românticos, o bar apresenta Jorginho Bártholo, interpretando o que há de melhor na MPB e nos boleros, em castelhano, como ele faz questão de frisar.

A direção do Bar do Armando informa que não haverá cobrança de ingressos, couvert e nem os famosos 10% do garçom. É só chegar, sentar, pedir uma cervejinha e curtir o vozeirão do cantor.

Jorginho Bártholo começou a cantar em meados de 1980, aos 16 anos, percorrendo os points mais tradicionais da época, como Varanda’s Bar, Xalaco, Consciente, Tropical e muitos outros.

Fazendo incursões em São Paulo, conquistou uma legião de fãs ao interpretar personalidades como Cauby Peixoto e Emílio Santiago. Por lá, cantou na badalada casa de shows da avenida Paulista, “Plataforma 1”.

Atualmente, Jorginho Bártholo aguarda a oportunidade de entrar na lista dos “Valores da Terra”, da Fundação Vila-Lobos.

De acordo com ele, enquanto sua vez não chega, já está em estúdio preparando repertório para o CD intitulado “Resgate”.

“Será um resgate de clássicos da MPB. Não são músicas próprias, apenas interpretações. O público pode aguardar, que não se decepcionará”, garante o cantor.

Precoce no mundo da música, Jorginho Bhártolo começou a cantar aos 9 anos. Ele conta que era cantor de rádio em Guajará-Mirim, sua terra natal.

“Era cantor de rádio. Ne época não tinha televisão. Profissionalmente, comecei a cantar aos 16 anos, já em Manaus”, disse Bártholo, que se considera amazonense de coração.

No repertório que o cantor vai interpretar hoje, estão canções como “Começaria tudo outra vez”, de Gonzaguinha, “Como vai você”, de Antônio Marcos e “Grito de Alerta”, de Maria Betânia.

“Será uma apresentação simples”, declara o cantor, que também emociona quando canta músicas de Alcione, Simone e Gal Costa, só para citar algumas celebridades do seu repertório nacional.

Para a apresentação de hoje no “Chorando na BICA”, Jorginho Bártholo será acompanhado de Tião (guitarra), Junior Paraíba (sax) e Manuel Batera (bateria).


No dia 25 de outubro de 2001, o jornal A Crítica publicou a seguinte matéria:

Já se transformou em rotina: todas as quintas-feiras tem música ao vivo no projeto “Chorando na BICA”, do Bar do Armando (praça São Sebastião, ao lado da igreja).

A novidade de hoje é que vai ser realizada a primeira edição especial do evento com um tributo a João Nogueira às 21h.

A partir de hoje, toda última quinta-feira do mês será marcada por uma edição especial do projeto.

Para interpretar as músicas de João Nogueira foi escolhido o cantor Américo Madrugada, que será acompanhado por Mark Clark (cavaquinho), Edu do Banjo (banjo envenenado), Altair Nunes (violão), Beto Beiçola (violão-solo) e Manuel Batera (percussão).

O homenageado, para quem não sabe, é um dos maiores compositores da MPB.

Sambista por excelência, foi revelado ao grande público por intermédio de Elizeth Cardoso, em 1970. Suas composições foram gravadas por nomes como Elis Regina, Clara Nunes, Alcione, Beth Carvalho e Emílio Santiago.

Apaixonado por samba, João Nogueira era compositor da Portela e foi fundador da Tradição, dissidência da Portela. Deixou 18 discos gravados.

No final de novembro, a edição especial do “Chorando na BICA” vai realizar um tributo a Domingos Lima. Os interessados em participar podem entrar em contato com Marco Gomes, pelos telefones 232 1195 ou com Afonso Toscano, no telefone 9906 7830.

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