domingo, 30 de janeiro de 2011

Carnaval 2006 - Estação Roberlândia


Até meados do século 19, o Largo de São Sebastião, localizado no centro histórico de Manaus, não passava de um pequeno roçado de propriedade do Sr. Antônio Lopes Braga.

Foi quando no dia 7 de setembro de 1867, por iniciativa do médico Dr. Antônio Davi Vasconcelos de Canavarro, foi inaugurado no terreno hoje ocupado pela Praça de São Sebastião, uma coluna de pedra, de seis metros de altura, com quatro faces lisas, provida de soco, cornijas, base e capitel, lembrando a ordem compósita, aquela versão tardia da ordem coríntia.

Essa modesta coluna foi consagrada ao ato de abertura do rio Amazonas ao comércio mundial, firmado pelo então Imperador do Brasil Dom Pedro II, no dia 7 de setembro de 1866.

Muitos anos depois, durante a inauguração do Teatro Amazonas, em 1896, a modesta pracinha foi totalmente repaginada e ganhou um bonito monumento de bronze, constituído de dois conjuntos.


O conjunto principal mostra uma representação da Amazônia abraçada a Mercúrio, o deus do comércio.

No conjunto inferior, as quatro naves de bronze representam a Eurásia, África, América e Oceania e Antártida.

O monumento não possui um único detalhe que lembre de fato a região amazônica.

A grande figura cimeira é clássica: uma vigorosa mulher de seios nus e amplas vestes flutuantes, severo perfil de cânones romanos.

Os delfins de bronze, à moda de gárgulas, lembram estilizações ferozes das catedrais góticas.


Em 2004, a pracinha foi transformada no Centro Cultural Largo de São Sebastião pelo Governo do Estado do Amazonas, através da Secretaria de Cultura, com a finalidade de resgatar a cidadania através da arte.

Fazem parte desse novo espaço o Teatro Amazonas, a Casa Ivete Ibiapina, a Casa do Restauro, a Casa J. G. Araújo e a Casa das Artes.

Diariamente, o largo oferece várias atividades, como passeio de charrete, teatro história, dança, música, fotografia, vídeo e artes plásticas ao ar livre.


A paginação do piso do Largo de São Sebastião possui semelhança ao desenho da paginação do calçadão da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.

Mas quem foi construído primeiro? O calçadão do Largo de São Sebastião ou o de Copacabana?

Em texto publicado no site do Portal Amazônia, podemos conhecer um pouco da história que envolve os dois calçadões. Confira.

Assim como o Teatro Amazonas, a calçada de Manaus foi inspirada na arquitetura européia.

Um piso semelhante decora há séculos a Praça de D. Pedro IV, mais conhecida como Praça do Rossio, em Lisboa.

Seu desenho foi escolhido para homenagear o encontro das águas doces do Rio Tejo com o Oceano Atlântico.

Hoje, moradores de Manaus gostam de dizer que o desenho de sua calçada simboliza o encontro da água escura do Rio Negro com a água barrenta que chega pelo Solimões.

Os rios levam quilômetros para se misturar completamente, formando o Amazonas.


No Rio de Janeiro, a história é que a calçada de Copacabana faz referência às ondas do mar.

Foi a partir da capital fluminense que o piso se tornou famoso em todo o país, sendo copiado também em outras capitais.

Mas o conhecido calçadão foi instalado no Rio depois de Manaus ter terminado o seu.

Então capital do Brasil, a Cidade Maravilhosa recebeu sua primeira calçada com ladrilhos portugueses no início do século 20.

Em 1905, depois que uma grande ressaca do mar destruiu o calçamento de Copacabana do Leme até o Forte, a Avenida Atlântica foi duplicada e a famosa calçada de ondas foi feita pela primeira vez, com desenho transversal em relação à orla.

Décadas mais tarde, outra reforma mudou as ondas da calçada para que ficassem paralelas à praia.

Em Manaus, a calçada do Largo São Sebastião foi finalizada em 1901, mas já estava planejada desde a década de 1880, quando o Teatro Amazonas, concluído em 1896, começou a ser pensado.

Mas deixemos essa polêmica de lado.

Ocorre que 2006 era um ano eleitoral e tanto o então governador Eduardo Braga quanto o então presidente Lula eram candidatíssimos a reeleição.

Os dois estavam dispostos a fazer de tudo para se sagrarem vitoriosos.


Em junho de 2005, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Roberto Jefferson revelou a existência de um suposto esquema de compra de parlamentares pelo governo federal, que chamou de “mensalão”.

O caso foi investigado pela CPI dos Correios, que por meses tomou depoimentos dos envolvidos e concluiu pela existência de um esquema de captação de recursos para um caixa dois de campanhas eleitorais de aliados do governo Lula.

O procurador-geral da República, entretanto, apontou a existência de uma quadrilha, cujo chefe seria José Dirceu. Ao todo, 40 pessoas foram denunciadas.


No mês seguinte, José Adalberto Vieira da Silva, assessor parlamentar de José Nobre Guimarães, deputado estadual do PT-CE e irmão de José Genoíno, então presidente nacional do PT, foi flagrado no aeroporto de Guarulhos com US$ 100 mil escondidos na cueca e outros R$ 200 mil numa valise.

O fato ocorreu no mesmo dia em que o PT se reunia para decidir a reação do partido à crise do mensalão e tornou insustentável a permanência de José Genoíno no comando do partido.

Investigações mostraram que Adalberto teria ido buscar propina de empresários interessados em montar uma linha de energia elétrica entre o Piauí e o Ceará, com recursos financiados pelo BNB.


O ex-prefeito de Manaus Alfredo Nascimento

Em agosto de 2005, o jornal O Estado de São Paulo publicou uma matéria intitulada “Dona Marisa pediu obras nas estradas”:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que foram sucessivas cobranças da primeira-dama Marisa Letícia que o teriam levado a dar atenção à recuperação das rodovias brasileiras.

“Toda vez que eu chegava em casa, minha mulher falava: ‘Lula, você viu o que está acontecendo nas estradas?’”, relatou o presidente, comentando em seguida que Marisa acompanhava o noticiário da TV sobre a precariedade nas estradas.

“Aquilo foi me incomodando, e aí fizemos uma reunião e decidimos priorizar a recuperação das estradas brasileiras e não permitir que os buracos continuassem atazanando a vida dos brasileiros”, afirmou Lula, em encontro com superintendentes do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT).

Num rápido pronunciamento, Lula ainda soltou farpas contra a imprensa que, à época, segundo ele, deu destaque aos buracos nas rodovias. “Agora, a imprensa parou de falar”, disse o presidente. “Ou o problema está resolvido, ou o carro do jornalista caiu no buraco e não teve notícia”, ironizou.

Em seguida, o presidente disse que valeu a pena receber “desaforos” e críticas por causa da operação tapa-buraco.

O titular do Ministério dos Transportes era o ex-prefeito de Manaus Alfredo “Buchada de Bode” Nascimento.

Durante sua gestão em Manaus, a cidade havia se convertido em uma tábua de pirulitos de tantos buracos e agora ele se deparava com o mesmo problema no plano federal.


O ex-deputado estadual José Melo, atual vice-governador do Estado

No final de 2005, uma das principais bandeiras da gestão do governador Eduardo Braga, o Programa Zona Franca Verde (projetos de desenvolvimento sustentável para gerar emprego e renda no interior), passou a ser gerenciado pelo então secretário de Governo, o ex-deputado estadual José Melo.

Para auxiliar José Melo nessa missão, foram nomeados 105 ex-prefeitos e ex-candidatos a prefeitos derrotados nas eleições de 2004 para atuarem como supervisores do programa com salários que variavam de R$ 4 mil a R$ 6 mil.

“Eles mantém o Governo informado das ações que estão sendo realizadas para que não haja desperdício, superposição de ações, demora e nem desvio de recurso”, disse Melo, em entrevista de janeiro de 2006, sobre a atribuição dos supervisores.

A imprensa passou a se referir ao escândalo como “mensalinho baré”.


No final do ano, o prefeito Serafim Corrêa importou dezenas de artesões de Parintins para confeccionarem a decoração de Natal da cidade com uma abordagem mais regional.

Apesar de ter gasto uma pequena fortuna na empreitada, a decoração natalina de Manaus virou motivo de piada: em centenas de postes havia uma bizarra estrutura metálica que, com muita imaginação, poderiam ser chamadas a macaquinhos. Um verdadeiro mico!

Nesse meio tempo, o secretário estadual de Cultura Robério Braga estava querendo transformar o Largo de São Sebastião em uma espécie de quilombo particular.


Em janeiro de 2005, ele proibiu os capuchinhos de utilizarem a praça no seu tradicional arraial de São Sebastião, para celebrar o aniversário do santo, alegando que as mesas e cadeiras poderiam danificar o piso restaurado.

Os capuchinhos tiveram que armar suas barracas, mesas e cadeiras na rua Dez de Julho.

Mais tarde, Robério instruiu alguns funcionários da sua secretaria a espantarem os pombos da praça por meio de disparos de rojão, alegando que os simpáticos pássaros estavam sujando demais da conta o piso restaurado.

Em agosto, em mais um de seus arroubos – ou delírios – de grandeza, Robério disse que iria colocar um bonde elétrico para circular no entorno da praça e chegou, inclusive, a promover escavações para descobrir o estado físico das antigas linhas de bonde.


Em outubro, durante a festa de aniversário de Manaus, Robério Braga entregou o bondinho a população, garantindo que a partir de janeiro ele começaria a circular no entorno do Teatro Amazonas.

O trenzinho caipira havia sido feito por uma equipe de artesões parintinenses, ou seja, era apenas cenográfico.


Na quinta-feira, 19 de janeiro de 2006, a coluna “Boca do Inferno”, do Correio Amazonense, publicou a seguinte nota:

Trem da Roberlândia

Hoje é dia de eliminatória para a escolha da marchinha mais abusada da Banda Independente Confraria do Armando (BICA). A folia no bar do português começa às 20h, com as bandas Corneteiros do Danúbio e Demônios da Tasmânia. Após a escolha da marchinha, que tem como tema o trem-bala do Robério Braga adentrando no largo do Armando, a bateria da Reino Unido assume o comando musical e esquenta o botequim. A presepada só periga acabar quando também acabar o estoque de 200 caixas de cervejas. Evoé, Momo!


Manuelzinho Batera, o mais dedicado diretor da BICA

No domingo, 22 de janeiro, a coluna “Sim & Não”, de A Crítica, na seção “Pinga Fogo”, publicou a seguinte nota:

Jornalistas de várias empresas locais se reuniram ontem para traçar as ações estratégicas da banda da Buça, que eles estão formando para ser a antítese da Banda da Bica, contra a qual pintarão o sete.

Na quarta-feira, 25 de janeiro, a coluna “Encontro das Águas”, do Correio Amazonense, na seção “Cobras e Lagartos”, publicou a seguinte nota:

Dois enredos focando o governo atual disputam hoje e amanhã a preferência dos membros da Banda Independente Confraria do Armando (BICA), a mais irreverente do carnaval amazonense. A primeira teve o enredo gravado por David Assayag e a segunda por Edu do Banjo e Afonso Toscano.


Na quinta-feira, 26 de janeiro, a coluna “Boca do Inferno”, do Correio Amazonense, publicou a seguinte nota:

Banda da BICA

Na madrugada da última sexta-feira, a Banda Independente Confraria do Armando (BICA), sob a supervisão do general-da-banda Deocleciano Souza, promoveu mais um ensaio técnico que culminou com a ocupação simbólica do bonde do Berinho no Largo de São Sebastião. O fotógrafo Paulo Trindade documentou esse momento histórico. Hoje tem novo ensaio técnico e a escolha definitiva da marchinha por voto direto dos presentes. Se você não for ruim da cabeça nem doente do pé, participe. Evoé, Armando!


Na sexta-feira, 27 de janeiro, a coluna “Betsy Bell”, do jornal Correio Amazonense, publicou a seguinte nota:

Quem entra na BICA

Sabe-se lá quem inventou essa de que a Banda da BICA perdeu a irreverência. O tema “Estação Roberlândia” vem detonando o pobre bondinho do secretário Robério Braga e, por tabela, quem ainda entra na BICA é o mico de Natal do prefeito Serafim Corrêa, o “mensalinho” do José Melo, os buracos do Alfredo Nascimento e o governador Eduardo Braga porque só vive viajando. Toda a folia acontece no dia 18 de fevereiro e a BICA ganhou até uma filha: a banda do Sindicato dos Jornalistas, que já foi batizada de “Imprensa que eu gosto”. Huummmm... Eu já gostei.


No sábado, 28 de janeiro, a coluna “Encontro das Águas”, do Correio Amazonense, publicou a seguinte nota:

BICA

O carnaval mais hilariante e charmoso da cidade – o da BICA – vai cantar este ano o enredo “Estação Roberlândia”, uma ironia ao bonde de Robério Braga. A decisão aconteceu anteontem à noite num clima de muita disputa. O próprio Robério Braga esteve presente e deu boas gargalhadas, como deve ser realmente.


Simão Pessoa explicando ao jornalista Omar Gusmão que chifre é igual a sapato branco, só fica bonito nos outros

No sábado, 28 de janeiro, o caderno “Bem Viver”, de A Crítica, publicou uma matéria intitulada “Empate adia escolha de marcha para semana que vem”, assinada pelo jornalista Omar Gusmão:

Muita animação marcou a festa de escolha da marcha oficial de Carnaval da Banda da BICA 2006, que aconteceu na noite da última quinta-feira. Um empate entre “Tira a mão da cumbuca” e “Estação Roberlândia” adiou a escolha para a semana que vem.

A primeira é de autoria do compositor Américo Madrugada, mas é assinada por Iran Caminha, Ernesto Penafort e Alberto Aleixo. Já a segunda é de autoria de David Almeida, mas é assinada por Alberto Aleixo e Azize do Kibe. Explica-se: uma das tradições bem-humoradas da BICA é que a marcha oficial – sempre polêmica – seja assinada por biqueiros já falecidos.

O bom-humor, aliás, é uma das características mais marcantes da Banda Independente Confraria do Armando (BICA). E o “homenageado” da vez – o tema é “Estação Roberlândia” – mostrou muito bom-humor.

Ao contrário dos homenageados de outros anos, o secretário estadual de Cultura, Robério Braga, não se mostrou irritado em ter sido escolhido como tema. Ele compareceu ao Bar do Armando, cumprimentou os dirigentes da BICA e biqueiros de menor patente, doou R$ 100 do próprio bolso para a confecção dos dois novos bonecos da banda (Nestor Nascimento e Alberto Aleixo) e demonstrou topar a brincadeira com tranquilidade. Só não ficou até a hora da escolha da marcha.


Simão Pessoa convencendo Robério Braga a contribuir com qualquer merreca para o carnaval da BICA


Simão Pessoa registrando os R$ 100 dado pelo secretário. Pra quem gasta R$ 5 milhões com um Festival Internacional de Jazz que só ele curte, a contribuição ficou barata

O tema desse ano, “Estação Roberlândia”, é alusivo ao projeto de implantação do bonde no Largo de São Sebastião e ao fato de que ele ainda não conseguiu ser concluído. Daí que o largo de São Sebastião foi batizado pelos biqueiros de Estação Roberlândia.

E como o bonde é figura central do tema deste ano, próximo da meia noite a banda Demônios da Tasmânia saiu do Bar do Armando, seguida por dezenas de brincantes, atravessou a Praça de São sebastião e tomou o bonde de assalto. Tudo na maior ordem possível.

Tasmânia

A banda Demônios da Tasmânia foi a responsável pela animação da noite, sempre tocando antigas marchinhas, já que a tradição da BICA não permite axé music ou outro tipo de música na banda. E quem pensa que marchinha “é coisa de velho”, está enganado. A banda atrai jovens de todas as idades. A BICA, aliás, é uma banda de rua que preza pela preservação das antigas tradições carnavalescas.

Maioridade

Esse ano, a BICA atinge a maioridade completando 19 anos. A BICA surgiu em 1987, por iniciativa de alguns frequentadores do Bar do Armando. “Resolvemos fazer uma banda para reunir o pessoal e brincar o carnaval sem depender do Governo”, lembra Deocleciano Bentes, um dos fundadores e atual presidente da BICA. Ele conta que como os fundadores da banda se reuniam no Bar do Armando para fazer crítica política, a banda acabou também tendo esse cunho político.

Todo ano, a diretoria da banda escolhe um fato político, nacional ou local, para ser o tema. Já foram temas da banda o caso do juiz Nicolau dos Santos, a mansão do ex-governador Amazonino Mendes, entre outros temas polêmicos. No ano passado, o tema foi o caso da médica Soraya, que afirmou ter um filho com o então candidato a prefeito Serafim Corrêa, que é biqueiro.

Sábado magro

O chamado “Sábado magro” de Carnaval, uma semana antes da folia do Momo em si, é o dia em que a Banda da BICA ganha as ruas do Centro. Esse ano, a folia vai ser no dia 18 de fevereiro. A concentração tem início às 14h, mas a banda sai no final da tarde.


Helvinho, Luiz Cláudio e Petronila conversando sobre sexo na terceira idade

No domingo, 29 de janeiro, o secretário geral do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, Geraldo Xavier dos Anjos, escreveu um artigo intitulado “A Banda vai passar”, publicado no jornal Amazonas em Tempo:

Com a transferência do desfile de carnaval da avenida Eduardo Ribeiro para a avenida João Alfredo (hoje, Djalma Batista), em 1979, depois para o Sambódromo, em 1983, o carnaval de rua do centro de Manaus desapareceu.

Os frequentadores do antigo Mandy’s Bar, localizado no térreo do Hotel Amazonas, resolveram, em 1981, fundar uma banda de carnaval nos moldes da irreverente Banda de Ipanema. E é assim que esse grupo composto por Antenor Amazonas, Carlinhos Vasques, Arlene Ramos, Yêda e Suely Brasil, Ademar Brito, Elaine Ramos, Paulo Onetti e outros, fundam a banda mais irreverente de Manaus, que durante 16 anos animou o carnaval de rua da cidade.

Tendo como tradição sair sempre no Sábado Magro de Carnaval e às 17h, a banda era puxada pela orquestra da Polícia Militar e seu desfile era acompanhado por gente rica, pobre e as famosas drag queens, que davam um colorido especial ao desfile, que percorria a avenida Eduardo Ribeiro, Sete de Setembro, Floriano Peixoto, chegando finalmente no Hotel Amazonas.

Depois do Mandy’s, surgiram outras bandas. A da BICA (Banda Independente Confraria do Armando), que neste ano completa 19 anos de função e de protestos contra as malandragens dos políticos, administradores públicos, juízes e socialites que sempre dão motivo para um bom tema para o carnaval dos biqueiros.

Só que este ano, a turma da BICA deve ter tomado todas e, sem imaginação, resolveu homenagear o secretário de Cultura do estado com o tema “Estação Roberlândia”.

Em protesto a este tema, o Sindicato dos Jornalistas resolveu criar a Banda da Buça, que neste primeiro ano estará animando a Praça Santos Dumont, onde deverá arrastar mais de 10 mil pessoas em seu desfile.

A Bhanda da Bhaixa da Égua é outra que completa 19 anos este ano, promovendo um dos melhores carnavais de rua da cidade alta dos Educandos.

Também surgiram nesses anos muitas outras bandas como Banda do Cuiu-Cuiu, Banda da Rádio Difusora, Banda do Carvalho, Banda da Jovem Pan, Banda do Pina, Banda das Piranhas, Banda da Boite A2, Banda do Jacaré e Banda da Boite TS.

Este ano, teremos a volta da Banda do Boulevard, que animará o carnaval da avenida Álvaro Maia, e muitas outras que farão a animação do folião manauara.

Hoje, muito dos promotores das bandas transformaram o carnaval de rua em verdadeiro meio de ganhar dinheiro, com a promoção de bailes fechados e cobrando ingressos caros, vendendo camisas também a preços exorbitantes e muitas vezes manipulando o preço das bebidas.

Essas promoções com o título de “Banda” não passam de bailes carnavalescos fechados, como os que eram promovidos pelos clubes no passado, deixando assim os foliões sem dinheiro e nu com a mão no bolso.


Rogelio Casado mostrando uma das letras das marchinhas para Robério Braga

No domingo, dia 29 de janeiro, a coluna “Em Off”, de Rogério Pina, do jornal A Crítica, publicou a seguinte notinha:

Raridade cara

Em função da repentina fama que a réplica do bonde do Largo de São Sebastião ganhou, como tema da Banda da BICA, a coluna descobriu que a Secretaria de Cultura sondou um colecionador paulista para adquirir uma peça original. Engataram uma ré ao saber que um bondinho sairia por R$ 300 mil.

Na terça-feira, 31 de janeiro, a coluna “Boca do Inferno”, do Correio Amazonense, publicou a seguinte notinha:

Carnavália

Na última quinta-feira, a escrachada Banda Independente Confraria do Armando (BICA) realizou a escolha da marcha-enredo que vai animar a pândega deste ano. Depois de muito quiproquó, a Diretoria achou por bem classificar três músicas: uma marchinha propriamente dita (“Estação Roberlândia”, de Alberto Aleixo e Azize do Kibe), um samba-exaltação (“Cumbuca”, de Iran Caminha, Ernesto Penafort e Alberto Aleixo) e um samba-enredo (“Bondinho do Berinho”, de Álvaro Maia). As três músicas serão gravadas pelo rei David Assayag e estarão à venda na próxima quinta-feira.


Davi Almeida, Manuel Batera, Orlando Farias e Gil da Liberdade

Na terça-feira, dia 31 de janeiro, a coluna “Liduína Moura SA”, do jornal O Estado do Amazonas, publicou a seguinte notinha:

Entrando na BICA

Além do bondinho no largo São Sebastião e a boa irreverência de sempre, a BICA este ano vai dispor de mais alegorias – sempre há mais gente para a anarquia geral (ainda bem) – e assim o bonequeiro oficial da mais tradicional confraria, Paulo Mamulengo, esconde a sete chaves quem são os dois novos homenageados de 2006. Mas descobrimos que outros dois bonecos vindos de Eirunepé estarão presentes na folia.

Na quarta-feira, dia 1º de fevereiro, a coluna “Portal”, do jornal O Estado do Amazonas, publicou a seguinte notinha:

BICA

A Banda Independente Confraria do Armando (BICA) mostra mais a proverbial irreverência lançando hoje, às 18h, a segunda edição do livro “Amor de BICA”, no bar dissidente “Cinco Estrelas”, na avenida Getúlio Vargas. O livro, escrito por Mário Adolfo, Simão Pessoa, Marco Gomes e Orlando Farias promete revelar os nomes dos autores das marchinhas – sempre atribuídas a biqueiros falecidos. Os autores limitaram a edição a 500 exemplares e juram que não haverá uma 3ª.

Na quarta-feira, dia 1º de fevereiro, a coluna “Boca do Inferno”, do Correio Amazonense, publicou a seguinte notinha:

Amor de BICA

Hoje, o desencanado Charles Stones vai aparecer até no Jornal Nacional. É que a partir das 18h, no Bar Cinco estrelas, ali ao lado do Cheik Clube, eu, Orlando Farias e Marco Gomes (Mário Adolfo ainda está de férias no Rio de Janeiro) estaremos autografando a 2ª edição do livro “Amor de BICA”, que contou com o patrocínio dos biqueiros Serafim Corrêa, Sebastião Assante (secretário de Comunicação Social) e Anibal Beça (presidente do Conselho Municipal de Cultura). O cantor Mika de Manaus e o tecladista Márcio Rogério vão garantir a parte musical com marchinhas carnavalescas dos tempos de antanho. Só não vai quem já morreu. Agende.

No mesmo dia, a coluna “Encontro das Águas”, do Correio Amazonense, na seção “Cobras e Lagartos” publicou a seguinte notinha:

O Espaço Cinco Estrelas (ao lado do Cheik, no Centro) promove o lançamento do livro “Amor de BICA”, de Mário Adolfo, Orlando Farias, Marco Gomes e Simão Pessoa. A edição limitada (500 exemplares) foi patrocinada pela Semcom.

Também no mesmo dia, a coluna “Betsy Bell”, do Correio Amazonense, na seção “Paneiro”, publicou a seguinte notinha:

Amor de BICA

O quarteto formado por Simão Pessoa, Mário Adolfo, Orlando Farias e Marco Gomes puxam a cadeira e sentam, hoje, é no Bar Cinco estrelas, a partir das 18h, para o lançamento da 2ª edição do livro “Amor de BICA”, escrito por eles.


Simão Pessoa, Mário Adolfo e Wilson Fernandes, dono do lendário Barraka's Drinks, da Cachoeirinha

Ainda no mesmo dia, o caderno “Aplauso”, do Correio Amazonense, publicava uma matéria intitulada “Amor de BICA no Cinco Estrelas”:

A segunda edição de “Amor de BICA” será lançada hoje, a partir das 18 horas, no Bar Cinco Estrelas (avenida Getúlio Vargas, s/nº, ao lado do Cheik Clube.

Escrito por quatro integrantes da Banda Independente Confraria do Armando (BICA) – Mário Adolfo, Orlando Farias, Marco Gomes e Simão Pessoa –, a presente edição está limitada a 500 exemplares e, conforme desejo expresso dos autores, o livro nunca mais será reeditado.

“Amor de BICA”, que teve o apoio cultural da Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria de Comunicação Social e do Conselho Municipal de Cultura, conta os 20 anos de história da banda carnavalesca mais irreverente de Manaus.

Sua leitura também permite rememorar as mudanças políticas que aconteceram no Amazonas e no País durante o referido período.

Em relação à primeira edição, lançada no ano passado e hoje item de colecionador a segunda traz dois novos capítulos: um, mostrando a história da Banda Cinco estrelas, fundada por “biqueiros” para fechar o carnaval da cidade na terça-feira gorda, já que a BICA abre o carnaval de rua no sábado magro. Comemorando dez anos de fuzarca, a Banda Cinco Estrelas acabou se tornando uma filial bem-comportada da BICA.

O outro capítulo fala do desfile da BICA no ano passado, quando um dos fundadores da banda e “biqueiro” habitual, Serafim Corrêa, já estava investido no cargo de prefeito.

Entre outras revelações, a obra mostra pela primeira vez o nome dos verdadeiros compositores das marchinhas irreverentes que fizeram a fama da banda, cuja autoria sempre foi atribuída aos “biqueiros” falecidos.

Cada exemplar do livro custa R$ 30. O dinheiro arrecadado será utilizado para colocar o bloco da BICA na rua.

O cantor Mika de Manaus cuidará da parte musical do evento, com um repertório de marchinhas carnavalescas e sambas de enredo.

Também será executada em primeira mão a marchinha alusiva aos dez anos da Banda Cinco Estrelas.

Na quarta-feira, 1º de fevereiro, a coluna “Claro & Escuro”, do Diário do Amazonas, publicava a seguinte notinha:

Folia

O livro “Amor de BICA”, dos irreverentes Simão Pessoa, Orlando Farias, Mário Adolfo e Marco Gomes será relançado hoje, às 18h, no bar do Cinco Estrelas.

Na sexta-feira, 3 de fevereiro, a coluna “Boca do Inferno”, do Correio Amazonense, publicou a seguinte notinha:

Amor de BICA

No lançamento do livro “Amor de BICA”, no Bar Cinco Estrelas, do Charles Stones, na última quarta-feira, o cantor Mika de Manaus e o maestro Márcio Rogério deram um show de bola, indo de marchinhas de carnaval a partido alto, de Beatles a Reginaldo Rossi, de Bee Gees a Zé Ramalho.

Marcaram presença na gandaia, entre outros, Eliezer Gonzalez, Sérgio Bastos, Franklin Oliveira, Hilton Ferreira (presidente do Sinpol), Inácio Souza, Ernando Carvalho, o fotógrafo Barros, Engels Medeiros, Jorge Smorigo, Anselmo Chíxaro, Leonardo Martins, Gutenberg Alencar, José Garcia, Vicente Filizzola (presidente da Força Sindical), Ricardo Miranda (presidente da FTIEAM) e as equipes da TV A Crítica, TV Rio Negro e TV Ufam. Valeu!


Robério Braga, Maninho e Deocleciano Souza

Na sexta-feira, 3 de fevereiro, a “Coluna do Marinho”, do jornal O Estado do Amazonas, publicou a seguinte notinha:

Amor de BICA, onde bate fica

Podem me dizer duzentas interpretações, todas elas maravilhosa e com a maior honestidade, sobre as três canções para 2006 da famosa e até agora independente Banda da BICA, e da “estupenda” doação roberlândica da vultosa quantia de R$ 100 de sua excelência reverendíssima, o “nobre e ínclito” Secretário de Cultura do Estado para que novos ícones mamulengos venham a ser construídos ou destruídos para este ano, no apoteótico desfile do “Bondão do Robério”.

Resta saber, como é do seu estilo, se o dinheiro foi realmente repassado ou foi só mais uma de suas famosas promessas politiqueiras.

Pela seriedade do assunto, “carnaval da BICA”, não duvido da história. Longe de mim.

Como complementaria o bardo luso Manuel Maria Barbosa Du Bocage, “Amor de BICA, nem o diabo explica”.


No domingo, 5 de fevereiro, a jornalista Amélia Loureiro publicou uma matéria intitulada “As bandas que eu vi passar”, publicada no suplemento “Mosaico”, do Amazonas em Tempo:

Quando criança e adolescente, principalmente, foram raros os carnavais que passei em Manaus. Logo após o Ano Novo, às vezes, antes, ia curtir as férias no Rio de Janeiro com meus avós. E a folia momesca só não passava batida porque os desfiles já eram transmitidos pela tevê.

O máximo que meu avô fez, um ano, foi nos levar para ver os blocos de sujos na avenida Rio Branco – ainda não havia o Sambódromo –, quando eu ainda era pequena. Porque quando cresci, ele simplesmente saía e trancava a porta do apartamento.

E, enquanto ele via a Banda do Leme passar – na época, ele morava na Princesa Isabel, esquina com a Nossa Senhora de Copacabana –, eu ficava a ver navios da janela do sétimo andar.

Quando ele voltava pra casa, eu esbravejava e argumentava: e se o prédio pegasse fogo, a gente ia morrer queimada, aqui trancada? Ele nem me dava resposta. Devo confessar que tenho minha parcela de culpa por ele ter adotado essa tática tão radical.
Eu devia ter uns treze anos e era louca para sair na Banda de Ipanema – idolatrava Leila Diniz –, como minhas coleguinhas do colégio Nossa Senhora Auxiliadora. Sem chance.

Então, fiquei sabendo, na praia, que o Leme também tinha sua banda e que ela sairia justo naquele sábado. Não pensei duas vezes. Deixei a minha mãe tostando no sol e corri para a concentração, num bar da esquina da avenida Atlântica.

Estava eu lá, muito fagueira, escoltada pelo finado Julio Bamonde, que encontrara por acaso, quando vi, ao longe, meu avô chegando com uma tromba maior que a de um elefante.

Claro que corri para casa e neguei que estivesse lá, mas ele, que não era bobo – muito pelo contrário! –, trancou a porta, colocou a chave no bolso e disse: – Quero ver saíres agora!

Se realizei meu sonho de sair na Banda de Ipanema?

Em termos, quando já era mãe e Leila já partira para animar outros carnavais. Grávida, com Jéssica a tiracolo e o carrinho de bebê atrapalhando, eu vi a banda passar.

Em compensação, aqui, eu não perdia uma banda do Mandy’s Bar.

Quando era solteira, escondendo-me de meu pai quando ele passava pela rua Barroso. Tremia que nem vara verde quando Carlinhos Vasques gritava: – Pinto, fecha isso aí e vem pra cá.

E, já casada, com a Jéssica a tiracolo – para a sua estréia na banda, com oito meses, confeccionei, às pressas, uma baianinha com uma barra de bordado inglês e detalhes em fita dourada. A cabeça e a sapatilha, fiz de lurex.

Quando Jorge Vasques me viu, apressou-se em me mandar para casa, antes que papai ficasse sabendo. E eu, muito dona do meu nariz: – Ele já sabe! E o pai dela também...

No ano em que a banda desfilou pela avenida com o Trem da Alegria lotado de beldades – Carlos Aguiar e Pedrinho Aguiar estavam maravilhosos –, coloquei as duas a bordo, com o pai, e sai atrás dançando.

Acho que foi nesse ano que o Mariozinho, que hoje se assina “by Queiroz”, saiu de aeromoça da TAM. Fazia gosto vê-lo equilibrar-se nos saltos finos. E as “meninas” da banda arrasavam.

A Chiquinha era lindíssima. Tinha um ex-seminarista que, todos os anos, ia vestido de normalista e sempre me mostrava seus cadernos com o que chamava de “deveres de casa”. Era uma delícia. E o único dia do ano que o jornal fechava antes do deadline.

À Bhanda da Bhaixa da Égua, fui uma única vez.

E ainda me lembro quando a BICA saiu pelas ruas pela primeira vez, com cinco gatos pingados. A Mona não deixou por menos. Arrasou de Coelhinha da Playboy.

Eu tasquei uma fantasia de índia pink na minha filha Nicole e na Jéssica já não me lembro mais porque, por essa época, ela já havia aposentado a fantasia de Mulher Maravilha, que me fizera comprar no Rio de Janeiro, dois carnavais passados, e com a qual desfilara quatro dias de folia momesca na Avenida Atlântica.

Naquela época, a brincadeira começava com um banho de talco, que, aliás, perdura até hoje. Mas bonecos, não tinha. Nem camarote.

Desde esse tempo, não perco uma banda. Nem mesmo nos anos em que troquei o calor humano e a emoção de desfilar nas escolas de samba pelo sol e a calmaria das praias do Caribe – viajava depois.

Era uma das primeiras a chegar na concentração, por volta do meio-dia, para rever os velhos amigos de faculdade – Ademir, Amecy, Jackson, Norberto, Mara...

Continuo indo à banda para encontrá-los, o que nem sempre acontece, porque ela cresceu muito.

Mas já faz alguns anos que troquei a concentração do Bar do Armando pela concentração na casa dos amigos Jayme Costa e Geraldo dos Anjos.

Nesses anos todos, a BICA só deixou de sair uma vez. Foi no ano em que a mãe do Armando, lá na “santa terrinha”, ameaçou partir desta para uma melhor.

Não foi – felizmente! Continua firme como a irreverente BICA, que este ano resolveu pegar carona no bonde da história parado no Largo de São Sebastião... ops!, na “Estação Roberlândia”.

– Valei-me, são Sebastião!, evoquei o santo guerreiro quando soube, e sem saber do que vem por aí, para que me assopre as respostas que darei às provocações dos engraçadinhos.

Afinal, eu também embarquei neste bonde. E há dois anos, troquei a Disneylândia pela “Roberlândia”.


A musa Petronila e o secretário Robério Braga

Na quarta-feira, 8 de fevereiro, no caderno “Cidades”, do Correio Amazonense, o jornalista Mário Adolfo Filho publicava uma matéria intitulada “BICA de carona no trenzinho”:

Símbolo de um carnaval que há muito já ficou no passado, a Banda Independente Confraria do Armando (BICA) acontecerá no próximo sábado magro (18) prometendo a mesma irreverência que lhe fez ganhar fama nacional como a genuína representante do cotidiano da capital amazonense.

Este ano “homenageando” o titular da Secretaria Estadual de Cultura (SEC), Robério Braga, o bem humorado grupo de artistas, jornalistas, escritores e políticos que fazem parte da direção da banda querem chamar a atenção do público para o trenzinho que o governo prometeu instalar no Largo de São Sebastião.

“Estação Roberlândia”, como foi batizado o enredo pelos biqueiros, vem fazendo jus a mais um tema polêmico, característico de uma das bandas mais tradicionais do carnaval de Manaus e que sempre levou para as ruas temas políticos, ironizando e escrachando os “comandantes” da província manauense.

Em mais um capítulo da rebeldia intelectual, a escolha da “vítima” deste ano aconteceu numa das mesas do Bar do Armando, no centro da cidade.

O “bando de irresponsáveis”, qualificação utilizada ano passado pelo secretário de segurança do Estado, Sá Cavalcante, para designar os frequentadores da BICA, não liga para a oposição e mesmo sem agradar a todos, já levou ao reduto de São Sebastião, centenas de pessoas, que aprovaram o tema escolhido para o carnaval.

Entre muitas opiniões, os biqueiros contam que o atual trem não reflete fielmente a história do Amazonas.

“Aquele trem que o secretário colocou ali no Largo de São Sebastião foi feito por parintinenses e não tem nada a ver com aqueles que um dia circularam por Manaus”, explica um dos diretores da banda, o jornalista e escritor Simão Pessoa.

“Conversamos com Robério Braga e ele disse que só existe uma pessoa em todo o País que faz esse tipo de veículo, mas ao preço de R$ 300 mil, o que foi considerado muito caro. Como a SEC vendeu essa idéia de uma nova estação no centro da cidade, decidimos pegar no pé deles”, explica.

Com três marchinhas já na ponta da língua dos biqueiros e em fase de ensaios pela banda Demônios da Tasmânia, fiel escudeira do português Armando e que acompanha a celebração desde o início, a diretoria diz que este ano todo mundo vai entrar na BICA se o “bondinho do Berinho não sair”, como diz a letra de Alberto Aleixo e Azize do Kibe.

Reduto


O jornalista Gersey Nazareno, Edmundo, Claudinha, Ivete e Dolores

Em uma atmosfera surreal e com 36 anos de história ao longo de sua existência, o Bar do Armando tornou-se ponto de encontro de intelectuais, artistas, universitários e jornalistas, que viram no local a única área em Manaus onde ainda existia o “livre pensamento”.

O lugar parece ter parado no tempo e até mesmo o aparelho de som ainda é do tempo em que os discos de vinil faziam sucesso. Nada que espante a fiel clientela, que encontra no bar a cerveja mais gelada de Manaus.

“Todos começaram a se encontrar no bar porque era o único local em que conseguíamos se refugiar para discutir e criticar o governo e bater um papo intelectual. Armando tem aquele jeito rabugento, mas no fundo gosta de todo mundo”, diz o também diretor da BICA, jornalista Mário Adolfo.

“Para mim, a BICA é como rezar, é estar sempre alegre dentro de mim mesma”, diz a rainha da BICA, dona Petronila, que participa desde 1987 e é uma das figuras emblemáticas da banda.

E o Berinho...


José Anchieta, Robério Braga e José Klein

A exemplo do que ocorreu no ano passado, assim que o secretário de Cultura, Robério Braga, soube que os biqueiros estavam se organizando para dar vida a mais um enredo, ele foi pessoalmente até o Bar do Armando com a intenção de conhecer como seria a organização do evento este ano.

A maior preocupação da SEC, hoje, está relacionada ao contigente populacional que todos os anos invade a praça de São Sebastião – que foi transformada no largo – e que poderia causar danos ao patrimônio público.

O encontro ocorreu na terça-feira da semana passada. Em clima de festa e mostrando bom humor ao ouvir as marchinhas que o “homenageiam”, o secretário assinalou que uma estrutura semelhante a de 2005 será montada em frente à Igreja São Sebastião.

A idéia é cercar o monumento central da praça e isolar a área em que as pedras mais delicadas não aguentariam o peso dos brincantes. Além disso, serão instalados banheiros químicos e barracas de alimentação devidamente cadastradas pelo poder público.

“O advogado da banda, Everaldo Fernandez, aproveitou a oportunidade para dar uma facada no secretário e pedir R$ 100. O dinheiro vai ser usado na confecção dos mamulengos de Nestor Nascimento e Alberto Aleixo, que estréiam este ano”, revela Simão Pessoa.

História contada em livro

Na noite de amanhã, o centro da cidade mais uma vez vai parar para ver a BICA passar.

É que a partir das 18h, Simão Pessoa, Mário Adolfo, Orlando Farias e Marco Gomes estarão no Bar do Armando fazendo o lançamento e autografando a segunda edição do livro “Amor de BICA”, que contém um registro histórico desde 1987 da única banda a fazer um desfile pelas ruas de Manaus.

Entre as atrações musicais, estão a bateria do GRES Reino Unido da Liberdade e a banda Demônios da Tasmânia.

“Vai ser uma festa de preparação para o desfile da banda no próximo dia 18”, adianta Simão Pessoa. “Logo depois de realizarmos a sessão de autógrafos vamos fazer um desfile pelas ruas próximas ao bar tocando todas as marchinhas deste ano e aquelas mais famosas e tradicionais do carnaval. Este ano, vamos colocar todos os bonecos da BICA dentro do trenzinho do Robério Braga”.

Escrito a quatro mãos, o livro também é composto de diversas reportagens que foram publicadas nos mais variados jornais de Manaus, fotos dos diretores e dos carnavais, bem como as letras das marchinhas de cada ano, como a do ano passado intitulada “Toma que o filho é teu”.
“A idéia de fazer o livro surgiu em 2005, quando a BICA completou 18 anos e entrou na maioridade”, diz Mário Adolfo.


Amecy Souza, Robério Braga, Maninho, Deocleciano Souza e José Klein

Na quinta-feira, 16 de fevereiro, no caderno Arte Final, do jornal Amazonas em tempo, o jornalista Mário Adolfo publicou uma matéria intitulada “A BICA vai entrar no bonde”:

Está combinado. Nem os biqueiros entram no sítio histórico do Largo de São Sebastião e nem os seguranças – contratados pela Secretaria de Cultura para defender o patrimônio histórico – entram na BICA.

Com esse acordo de cavalheiros, a Banda Independente Confraria do Armando (BICA), a mais tradicional e escrachada agremiação carnavalesca de Manaus mantém a tradição e realiza neste sábado (18), no local de sempre, o seu 20º carnaval.

No final do ano passado, chegou a se questionar que a BICA mudaria de lugar porque foi imprensada num corredor a partir do momento em que a Secretaria de Cultura fechou o Largo de São Sebastião, numa tentativa de proteger o sítio histórico, cujo piso de pedras importadas – resgatado ano passado num trabalho fantástico da SEC – não suportaria tanto peso.

A diretoria da BICA concordou com a preocupação do secretário Robério Braga e, embora não prometa andar de pantufas pela praça, vai procurar espalhar a massa anarquista por toda a rua 10 de Julho, entre as avenidas Eduardo Ribeiro e Getúlio Vargas.

E como o seguro morreu de velho, Robério mandou engessar o histórico monumento à Abertura dos Portos às Nações Amigas, com medo que algum biqueiro confunda a escultura com banheiro, como já aconteceu em outros carnavais.

Com um enredo que tem tudo a ver com a preocupação – Roberlândia: Um passeio no Bonde que não sai do Lugar ao Largo do Armando –, a BICA vai satirizar dessa vez a tentativa nostálgica do secretário de Cultura de resgatar os anos dourados da época dos bondes numa bucólica Manaus dos anos 1899-1950.

Para infernizar ainda mais a ordem estabelecida, três marchinhas estão caindo na boca do povo. A que surgiu na última semana de ensaio, feita às pressas, diz, numa referência á desenvoltura de Robério Braga no poder, que “como é traquino, esse menino / De dia ele é Braga / De noite Amazonino”.

Amor de BICA no ensaio geral

Animada pelos Demônios da Tasmânia, formada por ex-militares da PM que preferiram soprar saxofone do que apito no trânsito, a BICA começa sua concentração ao meio dia, quando um potente trio elétrico já deverá estar instalado em frente ao botequim.

– Mantendo sua tradição, a BICA não toca axé, nem hip hop nem outras babacamusic. A ordem é descarregar nas marchinhas dos anos 60, aquelas de Emilinha Borba, Marlene, Lamrtine Babo e Ari Barrosso – avisou Deocleciano Souza, o “general da banda”.

Na semana passada, um corneteiro ensaiou puxar “Levantou Poeira”, de Ivete Sangalo, e levou um cocorote da batuta de Deco.

No ensaio geral da BICA que acontece hoje, a partir das 20h, no Bar do Armando, com a presença dos Demônios da Tasmânia, os jornalistas Simão Pessoa, Mário Adolfo, Orlando Farias e o fotógrafo Marquinhos Gomes relançam, com direito a autógrafo dos autores, a 2ª edição do livro Amor de BICA (R$ 30 – Editora Color Graff, com apoio da Prefeitura de Manaus, Conselho Municipal de Cultura e Força Sindical), que conta a história dos 19 anos da banda mais debochada de Manaus.

A BICA também decidiu manter a tradição de desfilar pelas ruas do centro de Manaus, quando todas as bandas da cidade permanecem brincando no mesmo lugar.

Mas como a banda da rádio Difusora retornou à avenida Eduardo Ribeiro, depois de algumas incursões mal sucedidas no estacionamento do estádio Vivaldo Lima, a BICA alterou o roteiro do desfile.

Segundo o presidente Jomar Fernandes, por volta das 17h, comandada pelos bonecos mamulengos de Armando, Frei Fulgêncio e Petronila (a porta estandarte da banda que tem somente 88 anos), a BICA desce a Dez de Julho, sobe a Getúlio Vargas, pega a Sete de Setembro, cruza a Eduardo Ribeiro, segue pela rua Lobo D’Almada e retorna a Dez de Julho, desaguando novamente no largo de São Sebastião.

– Quem entra uma vez na BICA nunca mais deixa de entrar. No ano passado, perto de 40 mil pessoas invadiram o Largo de São Sebastião. Este ano, apesar da imprensada, o tapete de gente será maior –, promete Jomar Fernades.


Orlando Farias, Robério Braga, Joaquim Alencar, Davi Almeida, Simão Pessoa e Omar Gusmão

Na quinta-feira, 9 de fevereiro, durante o ensaio geral da BICA, foram apresentadas quatro marchinhas, sendo que apenas duas foram classificadas: Estação Roberlândia e Bondinho do Berinho.



Estação Roberlândia

Autores: Alberto Aleixo e Azize do Kibe

Médiuns: Simão Pessoa, Davi Almeida e Orlando Farias

Na Estação Roberlândia
O bicho solto este ano vai pegar
Se o bondinho do Berinho não sair
Todo mundo na BICA vai entrar
O Sarafa com seu mico de Natal
O Zé Melo e o pessoal do mensalinho
Os presepeiros do PT de cuecão
Do Alfredo Bode, só o buraquinho.

Na BICA vai entrar até o Dudu
Que passa a vida lá no além-mar
Ele não gosta de farinha e jaraqui
Só quer saber de verdinha e caviar

A Lourdes disse e o Armando confirmou
Buraco é coisa pra tratar com muito amor
Se o buraco é mais embaixo, ora pá,
Não tem saída, o negócio é relaxar!

Tapa o buraco aqui
Tapa o buraco lá
Chegou a hora da minha BICA levantar
Tapa o buraco aqui,
Tapa o buraco lá
É nóis na fita
e o trem não quer chegar



Bondinho do Berinho

Autores: Chico Pacífico, Little Box e Elaine Ramos

Médiuns: Mário Adolfo, Edu do Banjo e Mestre Pinheiro

Pra onde você vai,
Você vai pra onde?
Eu vou meter a minha
BICA no bonde

(ai, meu ovo!)
A praça já foi do povo
Mas agora, menino, fala sério,
O dono da praça, seu moço,
A praça é do seu Robério

Mas como fazer carnaval
Se até os pombos ele expulsou
O rapazinho anda cheio de fricote
E diz que a onda é uma tal de belle époque

O homem é um grande filho...
Cavou que nem tatu até achar o trilho
Mandou fazer um bonde no estrangeiro
(Pra que?) Só pra carregar nosso dinheiro

Eita parceria infernal
A gente entra com a banda
Berinho entra com o pau!

Esse gajo acaba excomungado
Pois quer tirar o Frei Fulgêncio aqui do lado
A Dona Lourdes não tem mais idade
Pra cantar fado no Carrossel da Saudade
Como é traquino (ai!), esse menino,
De dia ele é Braga, de noite Amazonino

Ai, Diocleciano,
Como é que brinca a minha BICA esse ano
Se o bonde do Robério está pegando
Eu vou meter a BICA no largo do Armando


Robério Braga e o Coronel Benfica

Tira a mão da cumbuca

Autores: Silvério Tundis e Rosendo Lima

Médium: Américo Madrugada

Tira mão da cumbuca, Dudu
Tu tá na BICA
E agora vai chupar caju

Cuidado, cuidado
Com a CPI
Tu só quer dormir
E não quer trabalhar
Esse dólar é do Prosamin
Não é pra ti,
Não vai gastar

E o “português”
Que sempre acreditei
Que fosse dessa vez
Essa porra melhorar
E agora sabe o que ele fez?
(ui, ui, ui)
Foi dar o rabo
Pro macaco se enforcar


Simão Pessoa, Armando, Deocleciano Souza e Eraldo

Trenzinho do Roberinho

Autores: Teodoro Botinelly, Antonio Paulo Graça e Celeste Pereira

Médiuns: Adal de Paris e Marco Gomes

Tira o olho, Babá,
Tira o olho, Babá
Olho gordo
Não deixa
Meu bonde andar

Lurdinha, Lurdinha,
O que eu faço
Pro meu bonde circular?

Pode parar de me chamar
De Roberinho
Se o meu bonde não andar
Com gasolina, com querosene,
Até com merda
Essa joça tem de andar

Quem nunca tocou pandeiro
Na Maloca dos Barés
Quem nunca sentou no colo
Do Vovô Branco no palco do teatro
Agora baba de inveja
No meu bondinho
Não deixo ninguém brincar

Com tanto cara de pau
No Congresso Nacional
Com tanto político ladrão
Mamando nas tetas da nação
Óleo de peroba é o que não falta
Pro meu bondinho andar
Na São Sebastião


Everaldo Cascatinha, Marco Gomes e Dona Lourdes


Norberto, Elisângela e Beto Blue Bird


Zemaria Pinto, Heliadora e Mercinha


Kádia, Zezinho Fotógrafo, Dinari, Helder e Simão Pessoa


João Thomé Mestrinho e Rogelio Casado


Ana Aleixo, Diadora, Simão Pessoa, Moniquinha e Praciano


Jô Almeida, Davi Almeida e Robério Braga


Serafim Corrêa e Jorge Palheta


Américo Madrugada e Robério Braga


Robério Braga, Serafim Corrêa, Simão Pessoa, Hermengarda Junqueira, João Thomé Mestrinho e Thiago Mestrinho

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