domingo, 30 de janeiro de 2011

Carnaval 2005 - Toma que o filho é teu!


Na quarta-feira, dia 11 de agosto de 2004, o jornal A Crítica publicou a seguinte matéria:

Aproximadamente R$ 500 milhões. Este é o valor que teria sido desviado dos cofres públicos do Estado do Amazonas através de licitações fraudulentas realizadas ao longo dos últimos dois anos, sob o comando de uma quadrilha que tinha entre os seus beneficiários o deputado estadual Antonio Cordeiro (PPS), o ex-secretário de Estado de Fazenda, Alfredo Paes, e o atual presidente da Comissão Geral de Licitação do Estado, João Gomes Vilela.

Os três estão entre as 20 pessoas que tiveram mandado de prisão temporária expedido pela Justiça Federal, cumpridos ontem, com a deflagração da Operação Albatroz, da Polícia Federal.

O deputado não chegou a ter o mandado de prisão expedido por conta da imunidade parlamentar, mas a mulher, o cunhado e assessores dele foram detidos.


Tido como o mentor do esquema fraudulento, Antonio Cordeiro – esse sujeito aí de cima, que foi líder do governo na Assembléia Legislativa nas gestões de Gilberto Mestrinho e Amazonino Mendes, e agora do governo Eduardo Braga – teve sua casa, na Ponta Negra, e o gabinete na ALE ocupados ontem por policiais federais.

Na casa do deputado, a PF encontrou mais de R$ 600 mil em espécie e um título ao portador no valor de R$ 1,5 milhão.

Três cofres – um subterrâneo, outro no teto de um dos banheiros e um terceiro não identificado – foram localizados na residência. Neles foram encontrados dinheiro em espécie e jóias.

De acordo com a PF, a quantia era tão grande que obrigou os policiais a interromper a contagem no final da tarde. Os policiais passaram cerca de dez horas na casa do deputado.

Cordeiro é acusado de comandar várias empresas fantasmas que se beneficiavam das licitações, realizadas pela Secretaria de Estado de Infra-Estrutura (Seinf).

Até meados de março, a Seinf era comandada pelo atual candidato a vice-prefeito na chapa de Amazonino Mendes, João Bosco Saraiva.

Ontem, a sede da secretaria passou por uma varredura, onde foram apreendidos documentos e computadores. O material será mantido no depósito da Superintendência da PF, bairro Dom Pedro.


Na quinta-feira, dia 7 de outubro, o jornal O Estado de São Paulo publicou a seguinte matéria:

É aguardado para esta sexta-feira, no Fórum de Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza, o depoimento do filho do senador Artur Virgílio Neto (PSDB), deputado estadual Artur Bisneto (PSDB-AM),  esse guapo aí de cima, candidato derrotado à Prefeitura de Manaus.

O deputado foi detido na terça-feira em Fortaleza, acusado de atos obscenos e desacato à autoridade. Segundo a imprensa local, o senador Artur Virgílio Neto, líder do PSDB no Senado, já estaria a caminho de Fortaleza para auxiliar no procedimento.

Antes, no entanto, o senador teria publicado uma nota oficial nos jornais se desculpando pelos “erros da juventude”.

Ainda de acordo com jornais de Fortaleza, o deputado, embriagado e acompanhado de dois amigos, teria feito provocações a uma comerciante, chegando a mostrar as nádegas.

A polícia foi acionada e, na delegacia, Artur Bisneto teria repetido o gesto na frente da delegada e das testemunhas. Como punição, o deputado deverá pagar apenas alternativas ou multa.


Na quinta-feira, dia 21 de outubro, o jornal Tribuna da Imprensa publicou a seguinte matéria:

Como sempre ocorre, eleição acaba sendo sinônimo de baixaria.

Em Manaus, por exemplo, de repente apareceu em um programa de televisão a médica Maria Soraia Elias Pereira (essa mocréia aí de cima), de 33 anos, acusando o candidato a prefeito do PSB, Serafim Corrêa, de se recusar a reconhecer a paternidade de um de seus filhos e ainda lhe fazer ameaças de morte.


Você acredita em coincidência?

Pois o tal programa de TV é apresentado pelo vereador reeleito Sabino Castelo Branco (PFL), esse sujeito aí de cima, e o aparecimento da médica acusando o candidato do PSB coincide com a volta do marqueteiro político Egberto Baptista à campanha do seu adversário, Amazonino Mendes, também do PFL.

Poucos lembram que Egberto foi o descobridor de Miriam Cordeiro, que na campanha presidencial de 1989 acusou o então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, de ter pedido que ela abortasse a filha do casal, Lurian. Egberto era assessor de Fernando Collor de Mello.

Como se vê, a história se repete, mas sempre há exceções. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, foi poupado de ter de explicar ao respeitável público o caso de seu filho adulterino com uma ex-famosa jornalista da TV Globo.

FHC escapou do escândalo, porque os adversários (especialmente, Lula) o pouparam nas campanhas de 1994 e 1998. Mas não vai se livrar da Justiça, onde está correndo o processo de paternidade.

Acontece que a mesma médica já esteve envolvida em caso semelhante, em Recife, quando acusou o desembargador Etério Ramos Galvão, ex-presidente do Tribunla de Justiça de Pernambuco.

Em 2000, ela teria engravidado do desembargador, teria sido seqüestrada e submetida a um aborto forçado.

Agora, em Manaus, as acusações da Soraia a Serafim Corrêa, são muito parecidas.

Segundo a médica, o candidato a prefeito a teria engravidado em 2003, assim que ela se mudou para a capital amazonense “fugindo da perseguição do desembargador em Recife”. Sinceramente...

A armação pode pegar muito mal para a campanha de Amazonino Mendes, sobretudo porque antes da eleição o candidato Serafim Corrêa já tinha entrado com um processo judicial contra a médica, que o estaria ameaçando de escândalo.

O tiro do marqueteiro de Amazonino pode sair pela culatra.


Amazonino Mendes e Serafim Corrêa comemorando o resultado das urnas

Na segunda-feira, dia 1º de novembro, o Jornal do Brasil publicou a seguinte matéria:

O economista e ex-vereador Serafim Corrêa (PSB), de 57 anos, derrotou ontem nas urnas o ex-governador Amazonino Mendes (PFL), que já 21 anos não perdia uma eleição no Amazonas.

Ao falar sobre eleição, Serafim criticou as pesquisas que davam a vitória de Amazonino como certa, mesmo diante da disputa acirrada na capital amazonense. O socialista teve 51,68% dos votos válidos, contra 48,32% do pefelista.

– Eu sabia que ia ganhar porque o povo destacava isso, mas até o fim da votação Amazonino mantinha a farsa das pesquisas, das baixarias e de coisas sujas de pessoas que não sabem fazer política como dignidade – afirmou Serafim, no primeiro pronunciamento após o fim da apuração dos votos na sede do Tribunal Regional Eleitoral.

Serafim, que recebeu o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno, ganha sua primeira eleição para um cargo do Executivo municipal depois das derrotas de 1996 e 2000 para prefeito. Ontem, ele afirmou que “vivenciou uma luta cruel durante a votação do pleito”.

– Eles tentaram de tudo para ganhar a eleição: pararam os ônibus, fizeram boca-de-urna, abusaram do poder econômico, mas Deus foi maior e vencemos as eleições – afirmou o prefeito eleito.

Amazonino Mendes, que recebeu apoio do governador Eduardo Braga (PPS), não respondeu às criticas de Serafim. Em um único pronunciamento ao lado do vereador Bosco Saraiva (PPS), seu candidato a vice, no comitê de campanha, desejou boa sorte ao novo prefeito.

– Perder faz parte do jogo. Desejo boa sorte ao novo prefeito de Manaus – disse Amazonino.


Jomar Fernandes, Simão Pessoa, Deocleciano Souza, Orlando Farias, Celito Chaves e Afonso Toscano

Na terça-feira, dia 21 de dezembro, o jornalista Mário Adolfo publicou a seguinte matéria no jornal Amazonas em Tempo:

O carnaval da Banda Independente da Confraria do Armando (BICA) que há 18 anos vem sendo realizado no Largo de São Sebastião, onde se encontra o tradicional bar do português Armando Soares, está tirando o sono do secretário de Cultura, Robério Braga.

O executivo que nos últimos oito anos revolucionou a cultura no Amazonas está preocupado com o peso sobre o calçamento do Largo de São Sebastião, que este ano retornou às pedras originais, fabricadas na Europa com um tipo de liga especial para que as rodas de ferro das charretes não fizessem barulho no atrito com a calçada durante os espetáculos de ópera.

O grande problema é que a mais tradicional banda de Manaus reúne todos os anos aproximadamente 40 mil pessoas, fora a quinquilharia adaptada por centenas de vendedores ambulantes.

Seria muito peso para as pedras que estão assentadas somente sobre areia branca. Para discutir o problema com os diretores da BICA, Robério Braga participou de uma reunião na noite de sábado quando foram discutidas todas as opções, entre elas um possível isolamento da área histórica da praça e a proibição de montagem de barracas sobre o piso da praça.

– A Secretaria faria um cadastro e os ambulantes ficariam perfilados no asfalto da rua 10 de Julho –, propôs o secretário.

Os diretores da BICA manifestaram sua opinião avisando de saída que também não querem prejudicar o patrimônio público, e hoje o Largo de São Sebastião é o maior cartão-postal da cidade.

– Se o Estado garantir a segurança a gente aceita, o que a gente não quer é assumir essa responsabilidade, até porque ninguém tem estrutura e nem cacife para segurar 40 mil malucos tomando cerveja desde o meio-dia – disse o jornalista Deocleciano Souza que juntamente com o juiz Jomar Fernandes, o promotor Francisco Cruz, o compositor Afonso Toscano e o jornalista Mário Adolfo participavam da reunião.

Robério Braga chegou ao Bar do Armando por volta das 19 horas, sendo recebido pela banda de metais Demônios da Tasmânia, que executou as famosas marchinhas do carnaval antigo e também algumas marchas-enredo na BICA, como “Cuscuz, pupunha e tucumã na Mansão do Tarumã”, letra bem-humorada que cita o secretário Robério.

– Esse espírito escrachado da BICA ninguém pode tirar e nem pensar em censurar. É a alma da banda – comentou Robério, entrando no clima de carnaval que tomou conta do Largo de São Sebastião.

Durante a conversa com o secretário surgiram algumas propostas como levar o trio elétrico, que sustenta o som da festa até às 3 horas da madrugada, para o cruzamento das ruas 10 de Julho e Tapajós.

Mas, parte da diretoria se manifestou contra porque isso tiraria a festa de seu principal foco que é o Bar do Armando, reduto de intelectuais, artistas, advogados, políticos e jornalistas.

– O carro deve permanecer no mesmo lugar, mas de frente pro bar, porque a tendência do folião é brincar na frente do carro do som, isso pouparia o calçadão que ficaria por trás do carro – sugeriu Jomar Fernandes.

– Mesmo assim teria de haver um cordão de policiais para impedir a passagem, porque ninguém garante que as pessoas não tentariam brincar na praça – advertiu Francisco Cruz.

Outra preocupação da reunião foi estudar uma forma de poupar o monumento em homenagem à abertura dos Portos às Nações Amigas, recentemente restaurado. “Isso talvez a gente resolva com um tapume”, disse Robério.

No fim da reunião entre biqueiros e o secretário, ficou acertado que a Secretaria de Cultura desenvolverá um projeto para alojar os vendedores ambulantes e isolar o calçadão de pedras. Uma nova reunião foi marcada para o inicio de janeiro, quando será apresentado o croqui desse estudo.

Uma coisa ficou acertada entre o secretário estadual de Cultura, Robério Braga, e os diretores da Banda Independente da Confraria do Armando. Nem os biqueiros querem danificar a praça e nem a Secretária de Cultura quer reprimir o carnaval da BICA, a maior e mais democrática manifestação carnavalesca da cidade de Manaus.

– Uma das características da BICA é a liberdade de expressão, a democracia e o anarquismo. Não teríamos como reprimir alguém ou proibir as pessoas de circulas livremente. Isso seria um paradoxo –, avaliou Deocleciano Souza, advertindo que a preocupação do secretário faz sentido e a banda está disposta a fazer concessões para não prejudicar a vida da cidade.

De acordo com o secretário Robério Braga, isto é o mais sensato, porque se isso não for feito o que vai acontecer é que “vamos nos divertir em um dia e prejudicar toda uma programação cultural de um ano inteiro” – comentou, lembrando que “orgia só é boa quando é organizada”.

Fundada em 1987, a BICA completa 18 anos em 2005. Tendo como característica enredos políticos e sátiras de fatos que agitam a vida da cidade, a BICA é a única banda que não abre mão de desfilar pelo Centro de Manaus. O roteiro começa pela 10 de Julho, o enreço do famoso bar, desce a avenida Getúlio Vargas, sobe a Sete de Setembro, a Eduardo Ribeiro e retorna novamente à 10 de Julho.


No dia 21 de dezembro, o jornal O Estado do Amazonas publicou a seguinte matéria:

Os diretores da Banda Independente da Confraria do Armando, a popular Banda da BICA, estão vivendo um dilema para o Carnaval 2005.

Realizada tradicionalmente há 18 anos em frente ao bar – na rua Dez de Julho, próximo ao Teatro Amazonas –, a BICA encontrou na revitalização da praça São Sebastião uma barreira que gerou impasse junto à Secretaria de Estado da Cultura (SEC).

No inicio da noite de sábado, o secretário Robério Braga se reuniu no local com membros do grupo para começar as negociações.

De acordo com Braga, a estrutura atual do Largo de São Sebastião não comporta o contingente atingido todos os anos na banda – em torno de 40 mil pessoas –, o que poderia gerar uma despesa a mais para o Governo logo depois do carnaval.

“As pedras não foram feitas para agüentar muito peso”, afirmou. “É claro que é importante a realização da Banda da BICA, mas temos de levar em consideração que faz parte apenas de uma data do calendário. Após o carnaval ainda existem os outros dias, e não podemos prejudicar o que já foi feito”.

Como sugestão imediata, Robério Braga sugeriu a instalação de cercas para não permitir o acesso de pessoas onde foram colocadas as pedras mais frágeis, que ficam na parte lateral do Teatro Amazonas.

Além da barreira, um contingente de policiais ficaria postado durante todo o dia para orientar os brincantes sobre a importância histórica do Largo de São Sebastião.

“Nós colocaríamos uma cerca para impedir que as pessoas ultrapassassem para aquele local onde estão as charretes”, explicou o secretário. “Para coibir o problema da falta de lugares adequados para as necessidades fisiológicas, podemos instalar dezenas de banheiros químicos, bem ao lado das ilhas de alimentação, que podem ser barracas personalizadas devidamente cadastradas”, completou.

Concordando com as argumentações do secretário, o presidente do Sindicato de Jornalistas, Deocleciano Souza, acha que é preciso uma nova adequação da banda à nova realidade, mas que o excesso pode vir a prejudicar a brincadeira.

Segundo ele, não já como impedir a circulação de vendedores ambulantes no local, apenas no complexo da praça.

“Estes vendedores sempre existiram na banda, não podemos simplesmente impedi-los de circular aqui no dia, confinando eles apenas na frente da praça”, argumenta. “É claro que nos próximos anos teremos de fazer uma reestruturação, até porque existe um projeto da SEC de fechar todo o Centro da cidade”.

O juiz Jomar Fernandes não concorda com o fato de colocar policiais na praça para impedir a passagem de brincantes para a parte lateral do teatro.

Segundo ele, a idéia bate de frente com a filosofia da banda, que é dar liberdade aos foliões com os temas políticos. “Imaginem como seria uma foto da Banda da BICA com os brincantes de um lado da cerca e os policiais de outro?”, indaga Jomar.

“Bom, está é apenas a primeira reunião de muitas que ainda faremos. Até porque o novo prefeito irá assumir e precisamos conversar com ele também”, encerrou Robério Braga.

Em uma reunião descontraída que durou aproximadamente 30 minutos estiveram presentes, além de Deocleciano Souza e Jomar Fernandes, o promotor Francisco Cruz, o jornalista Mário Adolfo e a banda que toca todos os anos na BICA, conhecidos por Demônios da Tasmânia.

No dia 23 de dezembro, a coluna “Sim & Não”, de A Crítica, na seção “Pinga Fogo”, publicou a seguinte nota:

A BICA esqueceu de divulgar seu samba-enredo. Assim, prosperam versões conflitantes do tema. “Ele foi escolhido logo após a eleição”, diz o coordenador da Banda, José Klein. O tema: “Tome Que o Filho é Teu”, baseado no “Caso Soraia”.


No dia 2 de janeiro de 2005, o anarquista semanário Maskate publicou a seguinte matéria:

A Banda Independente Confraria do Armando (BICA) desfila no sábado-magro, dia 29 de janeiro, com o tema “Toma Que o Filho é Teu”, um deboche alucinado sobre o caso Soraia, nome daquela mocréia que andou espalhando que tinha um filho do biqueiro e prefeito eleito Serafim Corrêa.

A letra da marchinha também aborda a bunda do deputado Artur Bisneto, que foi mostrada em Fortaleza (CE) e o fato de o ex-governador Amazonino Mendes não pagar IPTU.

A BICA nasceu espontaneamente no Bar do Armando num encontro de amigos, às vésperas do carnaval de 1987.

O nome foi sugerido pelo advogado Sérgio Litaiff e a banda faz sucesso desde o seu primeiro desfile, onde se mandou fazer 300 camisas, achando que eram demais. Foram vendidas 500 e ainda teve lista de espera.

Desde então a banda vem conquistando o coração de todos que passam pela praça São Sebastião no sábado magro.

A BICA arrasta hoje mais de dez mil pessoas pelas ruas do Centro, com seus bonecos mamulengos, com sua marcha satírica, com sua banda de sopros Demônios da Tasmânia e, principalmente, com a espontaneidade e o bom humor de seus foliões.

Em meio aos pais com seus filhos, avós com seus netos e moradores dos mais distantes bairros da cidade, a banda conta a presença de artistas, intelectuais, políticos e jornalistas, tendo como marca a combinação de glamour e irreverência.

Outas marcas registradas da banda são a rainha Petronila, com mais de 80 anos, e o grito de abertura de cada desfile “Que vengan los toros!”.

Quando é dado esse grito pelo general da Banda, jornalista Deocleciano Souza, e a queima de fogos ecoa na praça São Sebastião, quem não for ruim da cabeça ou doente do pé não pode deixar de cair na folia.

Afinal, são dezoito anos para comemorar e bebemorar. Quanto ao horário do desfile, a BICA é de uma pontualidade britânica: sai rigorosamente na hora que sai.

Entidade sem fins lucrativos, a banda ainda hoje é organizada na base da ação entre amigos, que todo ano lutam para pôr o bloco na rua.

Para custear as despesas de carro de som que, a cada ano, precisa ser mais potente, a confecção de camisetas, manutenção dos instrumentos e da banda de sopros, a BICA recorre ao Livro de Ouro e à venda de camisetas, o que nem sempre é suficiente.

Mas para participar da fuzarca não é preciso vestir a camiseta da banda ou qualquer outro adereço: é só ter espírito carnavalesco, alegria e – quem sabe – algum samba no pé.

No dia 8 de janeiro, o jornal O Estado do Amazonas publicou a seguinte matéria:

Na próxima quinta-feira, a Banda Independente da Confraria do Armando (BICA) dará a arrancada para a realização do seu carnaval de 2005, com a festa de lançamento oficial das camisas e do CD deste ano, ao preço de R$ 15 e R$ 10, respectivamente.

O tema do disco é “Toma que o filho é teu”, em alusão às últimas eleições municipais e ao polêmico “Caso Soraia”.

O desfile irreverente bloco carnavalesco manauara está previsto para o sábado magro, dia 29. Segundo Marco Gomes, poeta, escritor e membro da diretoria da BICA, está previsto para este mês o lançamento de um livro que conta um pouco desses 18 anos de história de folias e festas do bloco.

A obra destaca fatos engraçados e as célebres marchinhas que tanto sucesso fizeram durante todo esse tempo. O relato foi escrito pelos biqueiros Orlando Farias, Simão Pessoa e Mário Adolfo, e será vendido a R$ 10.

Os diretores do bloco estão em contato com a nova gestão municipal em busca de apoio para a instalação de banheiros e para a conservação das instalações da praça São Sebastião, inaugurada no segundo semestre de 2004.

“O Serafim é um biqueiro e tenho certeza de que vai nos fornecer banheiros móveis para ajudar na limpeza e na conservação da praça”, aposta Marco Gomes, lembrando que no desfile do ano passado um dos brincantes foi preso por urinar em via pública.

No dia 9 de janeiro, a coluna “Sim & Não”, de A Crítica, na seção “Pinga Fogo”, publicou a seguinte nota:

A Banda da BICA lança dia 20 livro editado pela Secretaria Estadual de Cultura em que narra a história de seus 17 carnavais e conta como foram elaborados alguns dos temas sobre autoridades políticas e judiciárias do Amazonas.

No dia 12 de janeiro, a coluna “Em Off”, do jornalista Rogério Pina, em A Crítica, publicou a seguinte nota:

Saco de Gatos

O samba que vai embalar a Banda da BICA este ano está um primor. Com mais de uma temática política, junta “Mad” Soraia, Sabino Castelo Branco e grande elenco.

No domingo, dia 16 de janeiro, a coluna “Número 1”, de Julio Ventilari, em A Critica, publicou a seguinte nota:

Espaço Delimitado

A Justiça garantiu a realização da Banda da BICA no seu local de origem, ou seja, no Bar do Armando. O secretário estadual de Culçtura, Robério Braga, propôs que a folia fosse transferida para o Sambódromo para evitar qualquer estrago ao projeto de recuperação da praça e do Largo de São Sebastião, mas a coordenação da banda não topou a idéia e tratou de precaver-se judicialmente. Por conta disso, Robério está providenciando o isolamento com tapumes da praça e do largo, além, é claro, do espaço em volta do teatro Amazonas. Um forte esquema policial será montado para a preservação do patrimônio histórico da área dos foliões que costumam urinar a céu aberto.


No domingo, dia 16 de janeiro, a jornalista Taliane Lucena, do Diário do Amazonas, escreveu a seguinte matéria:

Ela nasceu em 1987, na rua 10 de Julho, no Centro de Manaus. Uma menina teimosa, sem papas na língua, fala o que pensa para seu fiel publico que hoje já ultrapassa as 40 mil pessoas no sábado magro de Carnaval.

Sua sátiras, cachotas ou pode-se dizer sua irreverente gozação não deixa escapar sequer o dono da casa em que nasceu, o português Armando Dias Soares, de 69 anos, dono do tradicional Bar do Armando, na praça São Sebastião.

Seus inúmeros pais não se importam com a gozação feita impreterivelmente sobre um tema político que marcou o ano anterior, tão pouco se importam com as possíveis conseqüências. A regra é discutir um fato político em meio à festa mais popular do Brasil.

Ao nascer, a Banda Independente da Confraria do Armando, a BICA, arrastou um público que não passava de mil pessoas. O tema da marchinha daquele ano justificava seu nome e mostrava qual é o seu propósito.

Um de seus pais, o jornalista Deocleciano Bentes Souza, conta que a escolha do nome surgiu em uma das tradicionais reuniões dos amigos que freqüentavam e ainda freqüentam o Bar do Armando.

Mas o embrião da Banda da BICA surgiu nos anos de 1970, quando essa mesma turma de amigos – podemos citar os nomes de Francisco Cancela, um português já falecido, Jorge Boantes, um ator de teatro também já falecido, Walter Salgado, Deocleciano Souza, Manuel Batera, entre outros idealizadores da banda que até hoje “tomam sua birita e discutem temas importantes no Bar do Armando” – formavam um “bloco de sujos”, que se deslocava ao Centro da cidade para brincar o carnaval com outros blocos.

“Nós ficávamos brincando lá mesmo no Centro. Porque na época da ditadura militar para você brincar o carnaval você tinha de ir à Policia e se inscrever para dizer do que você iria se fantasiar. E nos éramos contra isso. O carnaval é uma festa popular. O governo, as autoridades do Estado deveriam estar só com aquilo que é institucional, como a segurança e toda infra-estrutura de rua, e não se intrometer na manifestação de cada individuo”, relembra Deocleciano.

A idéia da Banda da BICA é fazer uma sátira sobre um acontecimento político marcante no País ou Estado. Este ano, com o tema “Toma que o filho é teu”, vem mostrar episódio da campanha política pela Prefeitura de Manaus no ano passado.

O episódio que envolveu na época o então candidato Serafim Corrêa e a médica Soaraia Elias Pereira, que o acusava de não ter assumido um filho que teria tido com o agora prefeito, foi o tema escolhido pela banda neste ano.

A autoria da letra que compõe a marchinha foi dada aos já falecidos Sabá Raposo, José Fernandes, Metralha e Áureo Nonato como uma forma de homenageá-los.

A letra descreve, além do escândalo “Soraia”, outros episódios, como a prisão do deputado estadual Artur Bisneto, acusado de mostrar as nádegas em plena praça pública na cidade de Eusébio, no Estado do Ceará, e ainda relatos da Operação Albatroz, deflagrada pela Polícia Federal antes das eleições de 2004.

“É uma característica da banda. A gente sempre tem uma critica política, a idéia sempre foi essa. Reunimos pessoas que eram e são contestadoras, como jornalistas, advogados, juizes, promotores, poetas, escritores, entre outros pensadores. Ao longo desses anos, a gente vem mantendo essa tradição, fazendo críticas a políticos, a comportamentos políticos, que é a idéia oficial da banda”, ressalta o jornalista.

Outra característica da Banda da BICA é durante a marcha, que sai da rua 10 de Julho, segue pela Getúlio Vargas, e retorna ao local da partida pela 7 de Setembro e a Eduardo Ribeiro, só tocar marchinha de Carnaval. Seja a música composta especialmente para a banda ou músicas dos saudosos carnavais das décadas de 1940, 1950, 1960.

É impreterivelmente proibido tocar outros tipos de música, como axé, pagode, forró e brega, entre tantos outros ritmos já incorporados ao período carnavalesco. Por esse motivo é que a cúpula de organizadores da banda atribui o seu crescente número de freqüentadores e adeptos todos os anos.

“As pessoas que freqüentam a BICA, os biqueiros, são aquelas que não gostam de ouvir outro tipo de música na festa do carnaval. É por isso que o público da BICA é composto de pessoas já de mais idade – que freqüentavam aqueles velhos bailes de Carnaval –, além de um público jovem adepto deste tipo de música”, disse Deocleciano.

A exceção como explica, acontece nas duas primeiras horas em que a banda começa, quando ainda é permitido tocar uma ou outra música de escolas de samba. A seguir, noite afora, a BICA toca somente marchinhas de Carnaval e, por várias vezes, a sua própria composição.

“A BICA não é uma entidade, não tem estatuto, não tem regimento, não tem nada. Ela é uma união de pessoas que resolveram fazer o Carnaval aí a gente vende as camisas e paga os músicos. Não cobramos ingressos, nem pretendemos cobrar nunca ingresso. Não tem fins lucrativos, a finalidade é brincar o carnaval”, afirma.

Segundo Deocleciano, um dos principais temas da banda foi uma sátira feita sobre uma determinação do então governador Gilberto Mestrinho de liberar a matança de jacarés no Amazonas.

Na história da BICA, nem a igreja evangélica escapou. O episódio em que um pastor chutou a imagem da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, virou tema da marchinha de carnaval com o “Xô, Satanás”.

E por conta dos temas polêmicos, a BICA já sofreu pressões para que se “calasse”.

Em 1995, ao satirizar o TRE em função de denúncias de fraudes nas urnas durante as eleições, houve uma tentativa de impedir que a banda saísse.

“Teve um desembargador que ordenou a Polícia impedir que a banda tocasse. Mas era impossível conter 40 mil pessoas na rua”, recorda Deocleciano.

A banda também tem sua rainha, a dona Petronila, de 74 anos, que hoje, por problemas físicos, não desfila mais à frente da banda. Mas os organizadores desde o ano passado levam bonecos que a homenageiam.

A famosa BICA vai virar história contada em um livro feito pelos seus organizadores. No dia 20 deste mês será o lançamento do livro “A BICA e o Carnaval Amazonense”.

Para manter a tradição, a festa acontece no sábado magro de Carnaval, neste ano, no próximo dia 29. A tradicional banda Demônios da Tasmânia, composta por 17 músicos, vai animar e tocar as marchinhas.

O futuro da BICA? Das tradicionais marchinhas de Carnaval? Quem sabe? Não importa!

Uma coisa o amigo português garante. “Não adianta insistir para fazer outra banda aqui no meu bar. Pois ele é da BICA e aqui ela vai ficar”, diz Armando.


No dia 19 de janeiro, a coluna “Sim & Não”, de A Crítica, na seção “Pinga Fogo”, publicou a seguinte nota:

O livro “Amor de BICA”, sobre os 18 anos da banda de carnaval mais irreverente da cidade, foi apresentado ontem à imprensa. O lançamento ocorre amanhã, às 19h, no Espaço Cultural da BICA (rua Dez de Julho).


Amecy Souza e Armando, com o livro sobre a história da BICA

Na quinta-feira, dia 20 de janeiro, o jornalista Juliana Belota, de O Estado do Amazonas, escreveu a seguinte matéria:

A diretoria da BICA lança hoje às 21 horas, no Bar do Armando, o livro “Amor de BICA”, um relato bem-humorado dos 18 anos da banda, escrito pelos jornalistas Simão Pessoa, Orlando Farias, Mário Adolfo e Marco Gomes.

Segundo Simão Pessoa, o livro surgiu de uma conversa com o secretário de Cultura Robério Braga, na qual observaram que o carnaval da cidade não tinha mamória. O antigo Clube da Mocidade, por exemplo – movimento anterior a BICA – cairia fatalmente no esquecimento, assim como a Banda da BICA – a segunda de Manaus, fundada em 1987.

“Com o apoio do Robério, que declarou o interesse da Secretaria Estadual de Cultura (SEC) e a reunião do grupo de jornalistas que topou o desafio, o livro está sendo lançado hoje, com o objetivo de custear as despesas com o tro elétrico e da banda para o carnaval”.

Segundo Simão, daqui até a data de saída da Banda da BICA, no dia 29, haverá dois ensaios gerais, a começar de hoje, sempre às quintas-feiras, no bar do Armando, onde o livro está à venda por R$ 20. “Pela primeira vez os custos com a banda não sairão dos bolsos dos biqueiros”, lembra.

Na divisão do trabalho, Marco Gomes se encarregou de fazer uma coordenação da seleção musical que consta no livro e Mário Adolfo se dedicou ao relato de alguns episódios históricos, como a primeira viagem de Armando a Portugal de 1988.

“O bar fechou e nós, que só sabíamos beber lá, comprávamos cerveja em lata para beber na praça”, conta Marco Gomes. “Um exemplo de outro episódio marcante citado por Mário Adolfo no livro é o que narra a emoção do Armando na recepção do título de Cidadão Amazonense”, destaca.

Quanto ao seu trabalho e o de Orlando, que deu sua visão de todo o movimento, Simão Pessoa afirma que selecionou todos os enredos e relacionou cada um à respectiva conjuntura do País e da cidade para situá-lo dentro do contexto em que foi feito.

“Fiz isso com todos os sambas desde 1987 até o ano passado com o ‘Aqui Sefaz Aqui Se Paga’, samba que relatou a série de operações da Policia Federal que sacudiu o País na ocasião – ‘Farol da Colina’, ‘Gafanhoto’ e outros escândalos do mesmo porte”, explica.

Este ano a banda conta com duas letras que passarão pelo crivo do prefeito Serafim Corrêa hoje, quando uma elas – a menos agressiva – será selecionada para ir à avenida.

Pessoa explica que a banda, que sempre fez oposição construtiva sem adversários políticos, tem este ano o biqueiro prefeito “sacaneado” nas duas marchas do tema “Toma que o Filho é Teu”.

“O enredo da Banda este ano relata o episódio Soraia em plena campanha eleitoral e irá para avenida exatamente a letra que não for escolhida pelo Serafim”, brinca.

Para o jornalista Mário Adolfo, o livro ressalta o caráter irreverente da banda que surgiu em 1987 e tem a característica de tratar de temas políticos irônicos.

“Ele relata enredos que a BICA cantou ao longo do tempo como, por exemplo, a mansão do Amazonino, o caso da venda de alvarás por certo magistrado, o caso do Expresso do ex-prefeito Alfredo Nascimento, entre outros”, afirma.

Mário Adolfo, que é um dos fundadores da banda junto com personalidades como Mário Frota, Artur Neto e Deocleciano Souza, destaca que o que chama a atenção da Banda da BICA é que ela trata como humor de problemas da realidade da cidade.

“Este projeto já estava pronto há 15 anos e já seria bom o suficiente com os causos contados de 10 anos da BICA, mas com os autores que conseguimos reunir e a qualidade do trabalho que a BICA vem desenvolvendo como a banda mais irreverente de Manaus, talvez a mais importante, ele ganha um valor especial”.

Dentre os casos mais recentes relatados do livro, além do tema da marcha campeã deste ano, estão, conta Adolfo, o do deputado Artur Bisneto, na ocasião em que mostrou a bunda em Fortaleza e o da Operação Albatroz, que derrubou figurões da política amazonense e foi deflagrada pela Polícia Federal em 2004.

Segundo Simão Pessoa, a Banda da BICA, este ano, sofre um impasse porque o atual secretário estadual de Segurança, Francisco Sá Cavalcante, deu declarações de que a Banda da BICA não sai este ano. “Eu não o conheço, não sei quem ele é, mas sei que deu declaraçõse sobre o ‘bando de irresponsáveis’ que fazem parte da banda”.

Hoje, afirma Pessoa, começam os ensaios e será a hora de ver o que será da BICA com a lei seca decretada pelo secretário. “No Rio de Janeiro, a Banda de Ipanema, há dois anos, foi tombada pelo prefeito César Maia como bem de cultura imaterial. Queremos aproveitar que o Serafim é biqueiro pra ver se o poder público aqui não deixa acabar essa paixão manauara”.

Pessoa lembra que muita gente da periferia de Manaus nem brinca carnaval, mas desce na BICA. “É uma instituição da cidade de Manaus, uma banda que só toca marchas e samba, nada de axé, brega e outras coisas. Na BICA não tem briga e ninguém nunca se machucou”.

Após roubar o Livro de Ouro da fundação da BICA e mandar recuperá-lo para poder, a partir da pesquisa, compor a estrutura óssea do livro “Amor de BICA”, Pessoa declara ter vontade de entregá-lo a um museu de cultura, mas afirma, que por enquanto, será entregue, hoje, ao Armando mesmo.

“Ideal seria que a Banda da BICA chegasse a esse ponto, em que, mesmo que os seus dirigentes não queiram ir pra rua, o poder público faça a banda sair. Seus dirigentes hoje são juizes, prefeitos, magistrados e o próximo passo agora é conquistar a ONU”, brinca Simão, “para parar com os conflitos no Oriente Médio e só brincar carnaval”.


Mestre Casqueta, Simão Pessoa e Caio do Cavaco treinando uma marchinha para apresentar na BICA

Na quinta-feira, dia 20 de janeiro, o jornalista Jony Clay Borges, de A Crítica, escreveu a seguinte matéria:

Num esquentar dos tambores para a Banda Independente Confraria do Armando, a popular BICA, no próximo dia 29, a diretoria do grupo realiza hoje o lançamento do livro “Amor de BICA”, que conta a história dos 18 anos de realização da festa. Como não poderia deixar de ser, o evento acontece no Bar do Armando, a partir das 19h.

“Amor de BICA” é uma história de folia e irreverência, contada num relato bem-humorado redigido a oito mãos pelo escritor Simão Pessoa, pelos jornalistas Orlando Farias e Mário Adolfo e pelo atual presidente do Coletivo Gens da Selva, Marco Gomes. Em texto e imagens, o livro registro momentos importantes da história da banda independente.

O projeto foi apresentado por Marco Gomes a Robério Braga, secretário estadual de Cultura, que ofereceu apoio à publicação da obra. Os autores, em conjunto, abriram mão dos direitos autorais. Toda a renda obtida com a venda da obra será revertida para a realização da atual edição da banda, no dia 29 de janeiro. O livro estará à venda por R$ 20.

Segundo Orlando, na época da ditadura, as mesas do Bar do Armando tradicionalmente serviam como local de reunião para alunos universitários e professores, que ali podiam falar o que não se podiam dentro da universidade.

Já nos anos 70, o local era palco de pequenas folias no período de Carnaval que mais tarde, com o fim do regime militar, puderam ser mais ousados.

“Na década de 80, quando a BICA surgiu, foi uma conseqüência dessa tradição. Todos éramos pessoas de esquerda, sofremos com a ditadura e quisemos fazer a ‘revolução do copo’, ‘revolução do bar’”, afirma o jornalista, que assina a coluna “Sim & Não” de A Crítica. “Aquelas pessoas que ali se reuniram nunca perderam a rebeldia”, completa.

Graças a seu caráter anárquico e crítico, próprio do verdadeiro espírito carnavalesco, a banda fez sucesso e começou a atrair as pessoas.

Por vezes, lembra Simão Pessoa, a festa “não oferecia o mínimo conforto, a banda era ruim e o som era ruim”, mas isso não evitava que muita gente ainda a considerasse uma das melhores bandas de Carnaval. Com isso, “o que era uma coisa de 50 pessoas acabou virando um negócio de 20 mil. Virou uma instituição”, comenta o escritor.

Simão acrescenta que os meios de comunicação também ajudaram a dar força à folia. Nesse sentido, ele lembra que A Crítica foi o primeiro jornal a divulgar a banda independente. “O primeiro jornal a entrar na história da BICA foi A Crítica”, comenta o escritor.

Conforme Simão, responsável pela organização e edição do material, o registro do evento nos jornais, ao longo dos anos, foi a principal fonte para a reconstituição histórica em “Amor de BICA”.

“(Quando me convidaram) eu disse, o livro da BICA está escrito nos jornais, o que podemos fazer é pegar tudo e montar”, conta o escritor, que logo convidou para o projeto Mário Adolfo e Orlando Farias, “um pessoal da área que divulga a BICA”.

Entre outras coisas, a obra traz uma transcrição do estatuto da BICA, escrito em 1987 no Livro de Ouro da confraria por Heloísa Chaves, primeira secretária da iniciativa folia.

Outro destaque da obra são as homenagens feitas a nomes importantes, que freqüentaram o Bar do Armando, participaram da BICA e também fizeram história em Manaus.

Entre eles, estão Antonio Paulo Graça, professor de Letras da Universidade Federal do Amazonas e Rosendo Lima, professor de Filosofia da mesma instituição – este um dos primeiros a defender a causa ecológica em Manaus e que foi torturado por sua filiação ao PCdoB, durante a ditadura.

Para animar ainda mais o lançamento, a noite também vai contar com a disputa para a escolha do enredo da BICA 2005.

A contenda será entre duas marchinhas sob o tema “Toma que o filho é teu!” – uma referência ao tumultuoso e polêmico Caso Soraia, ocorrido nas recentes eleições para prefeito em Manaus e amplamente divulgado pela imprensa.

As composições já estão registradas em CD, Conforme a tradição, a autoria delas é atribuída a personalidades já falecidas que fizeram parte da história da BICA.

Assim, uma das marchinhas foi composta – ou psicografada, por assim dizer – por um grupo liderado por Sabá Raposo, assessor de comunicação morto no ano passado, enquanto a outra foi criação de uma equipe comandada pelo radialista da Difusora Crisantho Jobim, também falecido no ano passado.

Além do Caso Soraia, Simão conta que as marchinhas abordam ainda os escândalos do deputado Antonio Cordeiro e do atentado ao pudor protagonizado por Artur Bisneto em Fortaleza, Ceará.

A escolha será feita, segundo o escritor, pelo atual prefeito Serafim Corrêa, também freqüentador do Bar do Armando.

“Quando a gente começava a sacanear os caras nas músicas, ele era o primeiro a pegar as letras”, lembra Simão, comentando que já existe uma expectativa pela aparição de Serafim ao bar, onde ainda não esteve como prefeito.

Também na noite de hoje serão apresentadas as candidatas ao cargo de rainha da BICA – sendo todas, naturalmente, viçosas senhoras de mais de 60 anos de idade.

Durante a festa, a animação será garantida pelo grupo musical Demônios da Tasmânia. Sem dúvida, vale a pena conferir!


Silene e Joaquim Marinho, Simão Pessoa e Sinval Carlos, ex-presidente da ABAV em Manaus

Na quarta-feira, dia 26 de janeiro, o jornalista Joaquim Marinho, de O Estado do Amazonas, publicou a seguinte nota:

Livro da BICA na escola???

Não sei quem foi o autor da idéia, tremendamente porra-louca, de se mandar para as escolas municipais o recém-lançado “Livro da BICA”, um maravilhoso levantamento feito a oito mãos pelo Marquinhos, Simão Pessoa, Mário Adolfo e o meu querido companheiro do jornal A Crítica, Orlando Farias, redator da coluna “Sim & Não”, e que deu o furo.

“Amor de BICA” está ótimo, merece correr o Brasil inteiro, tem seqüências impagáveis e historicamente importantes, tanto que a Secretária de Cultura assumiu a sua publicação, mas ser adotado pelas escolas municipais me parece forte demais.

E olha que não sou puritano, nem censor e muito menos antibiqueiro como o atual secretário de Segurança, e estou mais para o senador Jefferson Peres que também pouco bebe como eu, e que fez uma curtida análise de que esta é mais uma lei a não pegar.

Na quinta-feira, dia 27 de janeiro, a coluna “Sim & Não”, de A Crítica, publicou a seguinte nota:

Golpe do 171

Por meio de um comunicado lavrado em Cartório de Títulos e documentos, a ECAD ameaça proibir o carnaval da BICA neste sábado. Ela quer receber R$ 800 mil em direitos autorais pelos 18 anos de carnaval de rua. “É o golpe do 171”, bradou ontem o coordenador José Klein, lembrando que todas as músicas da banda são de autoria de seus compositores.

Na sexta-feira, dia 28 de janeiro, o jornal Diário do Amazonas publicou a seguinte matéria:

Uma tentativa de organizar sem, contudo, reprimir o espírito de liberdade e irreverência da mais famosa banda de Manaus, a Banda Independente da Confraria do Armando (BICA).

Esse foi o espírito da reunião entre o secretário estadual de Cultura, Robério Braga, e parte da diretoria da banda, representada pelo juiz Jomar Fernandes e jornalista Mário Adolfo.

O encontro foi realizado na quarta-feira na sede da Secretaria de Estado da Cultura (SEC), quando Robério apresentou a planta para tentar proteger o sítio histórico da praça, que este ano recebeu o piso original, feito com uma liga desenvolvida na Europa.

A planta agradou aos diretores da BICA porque, de acordo com o croqui, os biqueiros perderão apenas o espaço da rua José Clemente que passa em frente ao African House, e parte da rua Tapajós, mais precisamente no trecho em frente à escada de acesso ao Teatro Amazonas, onde também foi colocado o calçadão original.

Esses dois espaços serão protegidos por tapumes e por um esquema de segurança para evitar a invasão.

“Estamos fazendo isso, com o apoio da BICA, porque na reconstrução do entorno original do Teatro Amazonas, as pedras estão afixadas sobre areia e não suportariam o peso da multidão que freqüenta a banda. Depois tem o problema das churrasqueiras que com certeza deixariam marcas nas pedras desenvolvidas com uma liga inglesa que parece borracha”, explicou Robério.

O governo do Estado, por meio da SEC, também ficará responsável pela colocação dos banheiros químicos.

Ficou acertado na reunião que serão dez banheiros, colocados em número de dois (para homens e mulheres) em cinco ponto do Largo de São Sebastião para ajudar na preservação do patrimônio.

Os biqueiros também pretendem convocar uma reunião com a Prefeitura de Manaus para tentar controlar a invasão de ambulantes que começam a se posicionar na praça 48 horas antes da gandaia começar.

De acordo com os diretores da banda, esse controle será necessário deste ano porque o espaço não será total como nos outros anos.

Na sexta-feira, dia 28 de janeiro, a coluna “Portal”, de O Estado do Amazonas, publicou a seguinte nota:

Bica Brother Brasil

A Banda da BICA será policiada como nunca. Oito câmeras de vídeo foram instaladas para acompanhar tudo o que se passar entre os foliões. Hoje, os equipamentos serão testados. O objeto é reduzir o índice de violência e garantir a segurança dos carnavalescos.

Na sexta-feira, dia 28 de janeiro, a coluna “Sim & Não”, de A Crítica, publicou a seguinte nota:

Banda

O vereador Francisco Praciano vai apresentar projeto tornando a Banda da BICA, que faz carnaval neste sábado, patrimônio municipal, como ocorre no RJ com a Banda de Ipanema. O objeto é permitir que ela passe a ter acesso a financiamentos, patrocínios e verbas públicas.

No sábado, dia 29 de janeiro, a colunista Betsy Bell publicou no jornal O Estado do Amazonas a seguinte nota:

Toma que o filho é teu

Dois bicudos ao se bicam, mas na BICA tudo pode acontecer. Afinal, o vereador Sabino Castelo Branco quer aparecer hoje no reduto, onde o prefeito Serafim Corrêa também já confirmou presença. É o encontro dos dois desafetos fazendo parte do Carnaval.

No dia do desfile da banda, as duas marchinhas foram tocadas alternadamente para alegria da galera. Curtam vocês também:



Nega Maluca

Autores: Luizinho Sá, Sabá Raposo, Metralha e Áureo Nonato
Médiuns: Mário Adolfo, Edu do Banjo e Mestre Pinheiro
Intérprete: Pessoal do Curumim

Tava no Armando
Tomando meu pifão
Anunciou na televisão
Sarafa nas tamancas pulou
Comeu Nega Maluca
E a maluca engravidou
Soraia, ah, ah, ah, ah!

Ai, ai, ai, isso cheira a armação
Ai, ai, ai, isso é coisa do Negão

Sou português,
Mas não sou otário
Fiz vasectomia
Na cabeça do Carvalho, ai, ai, ai!

Vade retro Amazonino
Esse menino é a cara do Sabino
Leva essa trolha pro rabo de lá
Vou ao Ratinho pra pedir DNA

De cueca samba-acnção
Eu já ganhei a eleição
Já vi a bunda branca do Artur
Até paguei o IPTU

Minha BICA tem voto e voz
Mas Cordeiro quer dinheiro
A gente chama a Albatroz



Par Perfeito

Autores: Crisanto Jobim, Luiz Almeida Marrom e Tié
Médiuns: Davi Almeida, Simão Pessoa e João Bosco Chamma
Intérprete: Davi Assayag

Na eleição pra prefeito
Um par perfeito apareceu
Sabino e Soraia, vixi, vixi
Falando que o Sarafa lhe comeu

Se comeu, fez muito bem
Quem come sapo
Não dá mole pra ninguém

Aqui na BICA
O bicho vai pegar
Não tem culpa eu?
Vá fazer DNA

No Ceará um deputado estadual
Mostrou a bunda encarando qualquer pau
E na colméia uma abelha se ferrou
Cordeirinho era lobo, descobriram e se lascou

Armando disse ô pá,
A Lourdes completou
Quem come essa Soraia
Pode ser governador ôôôô

Um bucho desses,
Ó Sarafa, tenha dó,
É muito mais escroto
Que a gestão do Carijó!

Na segunda-feira, 31 de janeiro, o jornalista Osmar Gusmão, de A Crítica, escreveu a seguinte matéria:

Nem a chuva, que não deu nenhuma trégua aos foliões manauenses, impediu que o sábado magro de Carnaval fosse animadíssimo, com programações para várias idades e gostos. Já à tarde, a Banda Independente Confraria do Armando (BICA) comprovou que o manauense está cheio de pique para brincar o Carnaval 2005.

Mesmo com a chuva ininterrupta, que começou a cair quando a banda foi oficialmente aberta e acompanhou todas as horas da folia que durou até o inicio da madrugada de domingo, as 35 mil pessoas que lotavam as ruas Dez de Julho, Costa Azevedo e a Praça São Sebastião não arredaram o pé.

E no clima de chuva, suor e cerveja – como na música de Caetano Veloso –, a Banda da BICA comprovou, em sua 18.º edição, que é o maior e mais tradicional evento de rua do Carnaval manauense. Até mesmo o prefeito Serafim Corrêa participou da banda.

“Participo há 18 anos. Nos outros 17 anos, quando os temas abordavam outras pessoas, eu vim. Nesse, em que o tema tem a ver comigo, eu vim também”, disse, referindo-se ao tema “Toma que o filho é teu”, que abordava o “Caso Soraia”, artifício utilizado contra o candidato nas eleições municipais de 2004.

“A BICA é um estado de espírito. Temos de levar a vida brincando, senão morremos mais cedo”, disse o prefeito.

O mesmo estado de espírito era compartilhado por Maria Denize Santos de Oliveira, 63, que brincava carnaval na chuva com as netas, e por Viviane Andrade, 23, que era uma das brincantes mais empolgadas.

“Sou de Recife e vim da terra do frevo para conhecer o Carnaboi, mas estou adorando isso aqui. As pessoas lá fora não tem idéia do que é isso aqui. Pensam que Manaus não tem nada”, disse.

Na segunda-feira, dia 31 de janeiro, a coluna “Sim & Não”, de A Crítica, publicou a seguinte nota:

Bica dos metais

A BICA sofreu muito em 2005 com o sumiço de várias bandas de ruas da região. Daí ter aparecido uma taxa maior de jiu-jiteiros. Nada que ofuscasse o carnaval de metais. Nada que Edu do Banjo não pudesse aplacar no comando da folia. E melhor. O público amou a bela interpretação de Davi Assayag num dos sambas-enredo.

Na terça-feira, dia 1º de fevereiro, a coluna “Portal”, de O Estado do Amazonas, publicou a seguinte nota:

Câmeras da Polícia mostram que são um grande aliado

As oito câmeras de vídeo instaladas pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP/AM) para monitorar a banda da BICA, no último sábado, deram resultado. Da central de controle foi possível observar, por meio de várias telas, os delitos mais comuns neste tipo de evento: furtos de celular e de carteiras porta-cédulas, além de jóias.

Na banda da BICA, a estratégia mais comum flagrada pelas câmeras foi a de grupos de quatro a cinco pessoas que imprensavam a vítima e, em seguida, um dos integrantes dessas turmas fazia o serviço, ou seja, retirava o que era possível em poucos segundos da pessoa que se transfomara em alvo.

A polícia está tentando identificar e prender esses marginais. Se não conseguir, vai monitorá-los nas próximas bandas. Quinta-feira, a Secretaria de Segurança Pública instalará câmeras no Centro de Convenções (Sambódromo).

As autoridades aconselham os foliões a deixar celulares e carteiras em casa, levando apenas o necessário (documento de identificação e dinheiro).

A estratégia de instalar câmeras de monitoramento em áreas estratégicas da cidade tem se revelado eficiente.

A polícia não revela, mas vários outros locais de Manaus estão sob vigilância. É como se vivêssemos uma espécie de Big Brother Baré.

No dia 3 de fevereiro, a coluna “Sim & Não”, de A Crítica, na seção “Pinga Fogo”, publicou a seguinte nota:

A Banda da BICA decidiu processar criminalmente o ECAD pela acusação de que ela tocaria em seus carnavais marchinhas fora de seu repertório próprio. “A BICA não precisa recorrer a músicas de outros autores porque tem seus próprios compositores”, diz o coordenador José Klein.


Pedro Paulo, Jomar Fernandes, Afonso Toscano e Mário Adolfo se preparando para começar o desfile



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