domingo, 30 de janeiro de 2011

Carnaval 2004 - Aqui Sefaz, aqui se paga


Em 2003, uma série de operações da Polícia Federal sacudiu o País. A mais famosa delas, foi batizada de “Farol da Colina”, que é uma tradução livre para Beacon Hill, nome da empresa americana para onde foram destinados os recursos que saíram do Brasil via Banestado.

Pelos cálculos da PF, pela empresa passaram US$ 20 bilhões (cerca de R$ 60 bilhões) enviados irregularmente por brasileiros entre 1997 e 2002.

As operações do Ministério Público Federal e da PF desbarataram esquemas de lavagem de dinheiro pelo sistema dólar-cabo, operação na qual o doleiro recebe o dinheiro no Brasil e faz o depósito de igual quantia no exterior para o cliente, via contas CC-5, sem nenhum registro no Banco Central, usando uma contabilidade paralela feita nos dois países.

As investigações do MPF começaram por uma conta-ônibus – por meio da qual são movimentadas várias subcontas – mantida pela Beacon Hill Service Corporation no J. P. Morgan Chase Bank, em Nova York.

As subcontas eram utilizadas em grande parte, por doleiros brasileiros para a administração e o repasse de remessas ilegais e provenientes do Brasil.


Entre os presos estão Antonio de Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, apontado como um dos mais conhecidos doleiros de São Paulo, e Élio Squinazzi, ligado à corretora Split, uma das empresas que esteve no centro do escândalo dos precatórios.

Também foram detidos Gilberto Benzecry, Carlos Cortez, Manoel Cortez, Camilo Lélis de Assunção, Ulisses Alves de Oliveira, Ivan Muniz Freire, Elza Xertan e Gustavo Xertan, doleiros que seriam responsáveis por expressivas movimentações financeiras no Amazonas, Minas Gerais e Pará.

Principais auxiliares do secretário de Fazendo, Alfredo Paes, os ficais da Sefaz, Zé Ricardo e Zé Heraldo, acabaram envolvidos na operação e tendo de explicar a origem dos dólares que mantinham depositados no exterior.

Os três entregaram os cargos de confiança que ocupavam na administração do governador Eduardo Braga.


Logo em seguida, a Policia Federal desencadeou mais duas operações: a “Anaconda” e a “Praga do Egito” ou “Gafanhoto”.

O objetivo da operação “Anaconda” era o desmantelamento de uma organização criminosa que atuava em São Paulo, com ramificações nos Estados do Amazonas, Pará, Alagoas, Mato Grosso e Rio Grande do Sul intermediando sentenças judiciais favoráveis.

Na operação foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão e nove pessoas foram presas.

Entre os detidos, encontravam-se um delegado e um agente da Polícia Federal (PF), uma auditora aposentada do Tesouro, três advogados e um juiz federal.

Os integrantes da organização foram indiciados por formação de quadrilha, prevaricação, tráfico de influência, corrupção ativa e passiva, facilitação ao contrabando, lavagem de dinheiro e concussão (extorsão cometida por servidor público no exercício de suas funções).

A operação “Praga do Egito” – também conhecida como operação “Gafanhoto” – investigou o envolvimento de autoridades públicas do Estado de Roraima num esquema de desvio e dinheiro público.

Segundo as investigações, a fraude ocorria desde 1995 e o valor do desvio pode chegar a R$ 1 bilhão.

A operação, fruto de mais de três meses de investigação da Polícia Federal, Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal, já resultou na prisão do ex-governador de Roraima, Neudo Campos, e de mais 59 pessoas que promoviam desvio de dinheiro público no Estado.

Além do ex-governador, estão envolvidos ex-parlamentares, deputados estaduais, empresários e servidores públicos.


Mas enquanto a Polícia Federal desencadeava essas operações, as aporrinhações do governador Eduardo Braga estavam apenas começando.

Em outubro de 2003, o jornalista Cláudio Humberto publicava duas notas em sua coluna, que é publicada diariamente em mais de 200 jornais brasileiros:

Um escândalo amazônico

O governador do Amazonas, Eduardo Braga, pagava salários acima de R$ 11 mil a seu motorista, entre 19 outas pessoas, escamoteados como jetons de conselheiros da Cosama. Pego em flagrante, Braga jurou que nada sabia e determinou mudanças na estatal. Mas o escândalo é maior: conselhos de administração de cinco estatais, sendo a Cosama a mais modesta, pagam jetons a 74 protegidos, no total de R$ 860 mil mensais. Mais de R$ 120 milhões por ano.

Sorte grande

Ubiracy Bezerra de Araújo não é apenas motorista, mas também sub-chefe de gabinete do governador Eduardo Braga, com salário de R$ 5 mil, além dos R$ 11 mil que embolsa como conselheiro da Cosama. A Viúva é rica.

Ainda em outubro, a jornalista Kátia Brasil, correspondente em Manaus do jornal Folha de São Paulo, publicava a seguinte matéria:

O governador do Amazonas, Eduardo Braga (PPS), criou a secretaria de Controle, Ética e Transparência para fiscalizar atos da administração e evitar desgastes como a descoberta de altos salários para secretários do primeiro e segundo escalões, entre eles os motoristas Ubiracy Bezerra de Araújo, que trabalha para Braga, e Antônio Carlos Rodrigues Fernandes, funcionário do vice-governador Omar Aziz (PFL).

Os dois motoristas têm cargos de confiança no governo e ganhavam mais de R$ 16,8 mil, sendo R$ 11 mil por serem conselheiros da Cosama (Companhia de Saneamento do Amazonas).

Entre os secretários, o do Planejamento José Carlos Braga recebia mais de R$ 18,2 mil de quatro conselhos de empresas públicas, o que elevava seu salário para R$ 35 mil.

Braga e Araújo decidiram devolver os três meses de salários, cerca de R$ 97 mil aos cofres do governo. Fernandes não se pronunciou sobre o caso.

Com a criação da secretaria, o governo Eduardo Braga diminuiu o número de conselheiro das empresas públicas e limitou os salários para R$ 1.100. Também enviou um projeto de lei à Assembléia Legislativa para nivelar os salários dos secretários.

Um Código de Ética será elaborado para o servidor público e para os funcionários do primeiro escalão do governo, por representantes do Ministério Público Estadual, Ordem dos Advogados do Brasil e pelo arcebispo de Manaus, dom Luiz Soares Vieira.

“A legislação dos conselhos permite o pagamento aos secretários, mas a devolução é um ato inerente e individual de cada secretário”, disse Braga.


Os biqueiros se aproveitaram dessa série de escândalos para meter o sarrafo nos envolvidos, sem dó nem piedade.

O resultado foi o enredo intitulado “Aqui Sefaz, Aqui se paga”, que também provocou muita polêmica.

No sábado, 24 de janeiro de 2004, o jornalista Joaquim Marinho publicou na sua coluna, no jornal O Estado do Amazonas, a seguinte nota:

Hino da BICA

Recebo do seríssimo intelectual caboclo Simão Pessoa, bilhete me informando do lançamento feito ontem do hino oficial da BICA para este ano, com os seguintes dados técnicos:

Título: Aqui Sefaz Aqui Se Paga

Compositores: Nestor Nascimento, José Ribamar Afonso, Jomar Jr. e Alcides Werk
Arranjos e harmonia: Reinaldo Moreno
Coreografia: Pepeta Close

Aqui Sefaz, aqui se paga
Roubar dinheiro público
Virou mesmo uma praga
Aqui Sefaz, aqui se paga
Se anacondar, Benzecry lava

Antonio Conselheiro
Nesse mato tem cachorro
Se eu soubesse dar conselho
Não seria gafanhoto

Era conselho de irmão
Conselho de motorista
Todo mundo bamburrando
E nóis duro aqui na BICA

O lançamento oficial da marchinha, apesar de ontem ter sido cantada pela primeira vez no próprio local do crime, o Bar do Armando, sairá na primeira semana de fevereiro com a banda, na praça São Sebastião, com tapume ou sem tapume, com protestos solenes ao cerceamento da liberdade de ir e vir pela praça.


Na quarta-feira, 28 de janeiro de 2004, o jornalista Joaquim Marinho publicou outra notinha na sua coluna, no referido jornal:

Banda da BICA

A amiga da família, Helen Benzecry, dá uma boa resposta à minha nota sobre a Banda da BICA, colocando-me alguns pingos nos is. Ei-la:

“Prezado amigo

Lamento muito em estar escrevendo para comentar negativamente sobre sua coluna.

Infelizmente tenho que discordar do senhor quanto ao título de “seríssimo intelectual” ao caboclo Simão Pessoa, pois caso o fosse, não permitiria tão estúpida letra, para seu hino.

Falo isso por me sentir profundamente ofendida quanto à alusão generalizada feita ao nome Benzecry, família da qual faço parte e tanto me orgulho, cuja acusação de lavar dinheiro nem sequer foi provada nos meios legais e que se restringe a apenas dois integrantes (sendo seus primeiros nomes sequer citados) desta família tão vasta e tão idônea.

Calúnia também é crime também e, acima de tudo, é triste quando as pessoas querem estigmatizar uma família inteira somente pela necessidade de chamar a atenção para obter fama.

Não consegui acreditar que o senhor, tão amigo da família, permitisse a publicação de tão desprimoroso hino.

Um abraço Helen”


Presidente da OAB, Alberto Simonetti (o terceiro sentado, da esquerda pra direita) garantiu a BICA o direito de ir e vir e de xingar e sacanear qualquer ladrão público

Na quinta-feira, 29 de janeiro, no Bar do Armando, a famosa comissão de notáveis juristas da BICA foi convocada para saber se a banda, efetivamente, estava cometendo alguma espécie de delito.

A decisão do colegiado foi unânime: os incomodados que fosse se queixar na Polícia Federal, onde estão correndo processos criminais.

A BICA só estava repercutindo, com bom humor e irreverência, aquilo tudo que a imprensa nacional já havia publicado. A letra oficial acabou sendo esta:

Aqui Sefaz, aqui se paga

Autores: Nestor Nascimento, Alcides Werk, Jomar Jr., Eduardo Monteiro Olímpia e Pepeta Close
Médiuns: Afonso Toscano e Simão Pessoa

Aqui Sefaz, aqui se paga
Roubar dinheiro público
Virou mesmo uma praga
Aqui Sefaz, aqui se paga
Se Anacondar o Benzecry lava! (bis)

Diz aí Adair o que te satisfaz!
A fantasia de Zé Ricardo
Zé Heraldo, Alfredo Paes
De coroinha Pepeta Close
De Passarelli ou Barrabás

Antonio Conselheiro
Nesse mato tem cachorro
Se eu soubesse dar conselho
Não seria gafanhoto

Era conselho de irmão
Conselho de motorista
Todo mundo bamburrando
E eu de fora dessa lista

A Lourdes disse
O Armando confirmou
Que nessa terra
Tem muito ladrão-doutor
E ela que é guerreira
Quer entrar na BICA
Pra ser conselheira

Na segunda-feira, dia 16 de fevereiro, o jornalista Enock Nascimento publicou a seguinte matéria no jornal A Crítica:

Crítica aos corruptos, marchinhas históricas e fantasias irreverentes. Mais uma vez, a Banda Independente da Confraria do Armando (BICA) resgatou as melhores características do antigo carnaval de rua.

Conforme os organizadores, mais de dez mil pessoas compareceram, no último sábado, ao evento gratuito, realizado em frente ao Bar do Armando (rua 10 de Julho) e na praça São Sebastião, Centro, que teve como enredo “Aqui Sefaz, aqui se paga”, em alusão às denúncias de corrupção contra os auditores ficais da Secretaria de Estado da fazenda e os salários astronômicos dos conselheiros.

No palco, se apresentaram a banda da Policia Militar e as escolas de samba da Vitória Régia e Alvorada.

Sinônimo para carnaval de rua é povo no poder. Festa que transcende as classes e ideologias sociais e torna a todos simples foliões. Ao lado de um grupo de jovens fantasiados de bebê, com frauda e chupeta, executivos e autoridades.

Caso da juíza da Primeira Vara Cível, Joana Meireles, que afirma não perder nenhuma edição do carnaval da BICA.

“É o único evento carnaval que vou porque é o único que mantém os padrões de um carnaval de rua que a gente conhece: ter enredo, ser irreverente e com a participação livre do povo”, resume, acrescentando que veio ao local sozinha porque o evento inspira segurança e convivência harmoniosa.

Segundo um dos diretores do carnaval da BICA (que devido ao tema pediu para ser identificado como conselheiro), Júlio Sá, o custo total deste ano da banda da BICA ficaria em R$ 12 mil.

Mas, os organizadores nem pensam em cobrar ingresso, o que significaria o fim da última resistência do verdadeiro carnaval de rua da cidade.

“Conseguimos pagar tudo com o dinheiro das barracas. É claro que isso não podia dar prejuízo tanto que o pão-duro do Armando, em vez de ficar se divertindo, está com o bar aberto para faturar mais um pouco”, conta o servidor público Wikens Castro, sobrindo de Júlio, e que está se preparando para participar da organização de futuros carnavais da BICA.

A universitária Iolanda Peres, 24, que afirma ter participado dos ensaios de todas as quintas na BICA, elogiava o conteúdo do enredo deste ano.

“Carnaval não é apenas uma forma de esquecer os problemas, mas representa um ato de revolução quando o povo satiriza seus algozes”, resume.


A nossa eterna rainha Petronila com o motor começando a ratear


O vocalista Biafra, dos Demônios da Tasmânia, cada vez mais se achando


Engels Medeiros tentando enganar o português mais uma vez, enquanto Jô Almeida apenas observa


Saleh Kit Kat, Lula e Gersey Nazareno mortos de loucos, enquanto o garçom Mosca Morta faz de conta que aquela confusão não é com ele


Adalberto Melo Franco, Inaldo, Américo Madrugada, Vicente Filizzola, Delcinho, Gil da Liberdade e Engels Medeiros


Afonso Toscano levando no gogó sua nova marchinha


E o militante pelas cotas raciais na Ufam e UEA, o petista Umbelino do Zumbi, mamou todas e resolveu morgar. Ah, quando Zâmbi chegar....


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